Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 297
Data:
31/12/2001
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Atualidade

A Innocent Pictures, uma produtora dinamarquesa de filmes eróticos, quer mudar as regras do jogo nos domínios da ficção sexual. A partir de agora, as relações entre homens e mulheres na telinha nunca mais serão as mesmas.  
 
Na casa de Lola, “o desejo é lei e a vida...”, sussura  
docemente uma voz juvenil, enquanto um grande plano foca um rosto de mulher que come cerejas com langor e prazer evidentes, deixando entrever um decote generoso... Esta sequência não é retirada de um banal filme erótico, mas de “um conto de fadas apaixonado”, contado em dinamarquês pela voz de Constance, a personagem central da história.  
A Puzzy Power, primeira sociedade de produções cinematográficas porno-eróticas destinadas a mulheres, foi fundada por uma dinamarquesa, Lene Borglum, cansada de ver filmes elaborados exclusivamente a partir das fantasias masculinas. “A pornografia comum dirige-se, unilateralmente, aos desejos e às fantasias sexuais do homem o opressor...”, afirma Lene, que, em 1997, decidiu lançar, em parceria com Peter Aalbeak Jensen, a Puzzy Power, em reação contra a eterna imagem das mulheres no cinema erótico, “seres humilhados e agarrados pelos cabelos”...  
Encorajada pelo cineasta Lars Von Trier, a empresa instalou-se no espaço da sua produtora, a Zentropa, em Copenhague. “A Puzzy Power começou quase como uma brincadeira. Hoje, porém, os filmes que fazemos conhecem um sucesso midiático superior a qualquer outro dos nossos projetos”, continua Lene. “Somos um pólo de provocação social!”  
Rapidamente apoiada nos seus planos de “produção pornográfica alternativa”, Lene elaborou, em conjunto com um grupo de outras mulheres, uma “carta” - semelhante ao “Dogma”, de Lars Von Trier e Thomas Vinteberg - contendo um manifesto sobre “tudo aquilo que as mulheres querem, ou não, ver num filme erótico ou pornográfico”. Proibidas, estão todas as formas de violência exercidas sobre as mulheres e as situações em que estas são submetidas contra a sua vontade. O texto ressalva, todavia, o seguinte: “Se for claro que se trata de uma fantasia feminina, é aceitável filmar mesmo as situações mais imprevisíveis...”  
Assim, ao homem que a surpreende de pulsos amarrados e lhe diz, com suficiência, “com que então, prisioneira...”, a heroína de Puzzy Power responde, “Não! Cativa de muito boa vontade!”, entregando-se-lhe em seguida, na cozinha de uma cadeia transformada em laboratório sexual. Elaborada por uma sexóloga, uma redatora de revistas femininas, uma atriz pornô e uma diretora de produção, a “declaração sobre a mulher e o erotismo” dita as regras da realização de Puzzy Power. “As mulheres gostam de ver o erotismo e a pornografia se o tom geral for estimulante e não repulsivo”, resume a “Carta”. As fantasias femininas devem sempre conduzir a ação, que se norteia, também, por uma lógica sentimental. Nenhuma situação sexual pode apresentar um caráter brutal ou imediato: o clímax, lentamente procurado e atingido, oscila entre a distância e a proximidade, “porque o desejo gerado pela expectativa é sempre mais forte.”  
Em “Constance”, o diário íntimo de uma avó, nos é revelado o universo erótico do castelo de Lola, “A Mestra do Desejo”. Narrado por uma voz feminina, “Constance” acompanha o conteúdo do diário, evocando as sensações da personagem no decurso das suas experiências sexuais, sob a direção de Lola, senhora das regras iniciáticas.  
Interpretada por Anais, a personagem de Constance não se assemelha em nada à atriz pornô habitual: elegante e diáfana, ela submete-se ao domínio de Lola - Katja Kean -, intérprete de filmes eróticos. Niels Dencker, que contracena com Anais, é, fora das telas, “stripper” e massagista profissional. “Não estamos interessados em atores demasiado especializados e cotados”, precisa Lene, “a nossa intenção é, justamente, abandonar as personagens típicas do visual pornô. De resto, nesta fase, inclinamo-nos muito mais para o erotismo do que para a pornografia.”  
“Pink Prison” - o segundo filme produzido pela Puzzy Power - uma trama erótica realizada por uma equipe majoritariamente composta por mulheres - “Pink Prison”, entusiasmou as platéias femininas no último festival de cinema de Estocolmo. O seu argumento gira em torno de Mila, uma jornalista que consegue introduzir-se numa cadeia masculina para entrevistar o inacessível diretor. Realizado por Lisbeth Lynghoft, uma dinamarquesa de 37 anos, “Pink Prison” esboça o retrato de uma mulher forte, obstinada e corajosa. Mila - que já havia sido intérprete do filme “Constance” - troca o decote de Lola por um pullover de gola redonda e uma calça jeans. Superando uma escalada progressiva de obstáculos, vai enfrentando todos os seus fantasmas eróticos até atingir o seu objetivo: entrevistar o misterioso diretor do presídio, que é, afinal, uma mulher. Como Constance no castelo de Lola, ela descobre o prazer nos segredos da prisão cor-de-rosa. “Eu quis apresentar um tipo de mulher determinada que consegue realizar os seus desejos”, explica a realizadora. “Não tive a pretensão de revolucionar o cinema pornográfico. Tentei apenas apresentar uma visão pessoal do erotismo, com uma heroína credível que evidencia múltiplas facetas da sua personalidade.” Uma intenção partilhada por Lene: “As mulheres sabem o que querem. E esse é o motivo que nos leva a produzir filmes mais realistas do que aqueles onde elas se limitam a ser dominadas pelos homens. O nosso alvo é uma nova geração de mulheres que cresceram com uma perspectiva dos seus corpos e da sua sexualidade muito diferente da tradicional.”  
Apesar de dirigidas às mulheres, as produções Puzzy Power têm vindo a conquistar audiências mais vastas. À venda em quiosques e clubes de vídeo, “nunca nas prateleiras destinadas à pornografia”, ressalva Lene, os filmes são proibidos para menores de 16 anos. “As nossas fitas não apresentam imagens sexuais no seu exterior. São comercializadas de forma muito discreta, e podemos deixá-las sobre a mesa da sala sem nos sentirmos envergonhados.” São filmes ideais para estimular a intimidade de casais na faixa dos trinta anos.”  
“Mulher cativa” - Livres do estereótipo da “mulher cativa”, as heroínas de Puzzy Power são, segundo Lene, herdeiras dos movimentos de libertação feminina dinamarqueses, típicos dos anos 70. “As mulheres dinamarquesas estão entre as mais emancipadas, e é perfeitamente legítimo considerar que se encontram despertas para representações da sexualidade que vão de encontro ao seus próprios fantasmas.” A Puzzy Power afirma-se, portanto, como uma “ferramenta cinematográfica” a serviço do feminismo e da mudança de costumes.  
Comentado numa linguagem erótico-poética, como acontece em “Constance”, o próximo filme - que evoca as memórias eróticas de uma jovem - respeitará as regras fundamentais do “Dogma”, a narração do desejo feminino e o reconhecimento da sua especificidade”. As heroínas de Puzzy Power procuram encontrar a sua voz em universos anteriormente reservados aos homens, explorando os territórios do seu imaginário erótico. “ Chegou a hora de compreender que a mulher pode e quer ir cada vez mais longe nos domínios da sexualidade e da pornografia”, proclama a doutrina de Puzzy Power.  
No início deste ano, a sociedade Zentropa rebatizou a Puzzy Power, que se denomina, agora, Innocent Pictures, e que vai continuar a produção cinematográfica de acordo com os mesmos princípios. Um projeto denominado “Donna Mobile” será o seu próximo filme, dirigido por Tzara Tristana, uma jovem cineasta de 25 anos. Trata-se de um melodrama erótico que tem por tema a natureza mutável das mulheres e que estará disponível no início de 2002. Nas telas do pornô revisitado, a Innocent Pictures vai prosseguir com a apologia de uma sexualidade estimulada por uma nova força de vida, libertando as mulheres de constrangimentos impostos e castradores

  


As mulheres sabem o que querem. E esse é o motivo que nos leva a produzir filmes mais realistas do que aqueles onde elas se limitam a ser dominadas pelos homens



Chegou a hora de compreender que a mulher pode e quer ir cada vez mais longe nos domínios da sexualidade e da pornografia

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