Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 322
Data:
15/1/2003
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» Índice
» Autos
Uma volta pelo Oeste num super carro  
totalmente americano  

» Turismo
Viena de austria A eterna valsa do Danúbio Azul  

» Foco
Toma Posse a nova diretoria do Centro do Comércio do Café  

» Momento
Momento especial para o colunista Maurício Prates e os executivos Marcelo Netto e Otacílio Pedrinha em confraternização no aconchegante wine bar da Casa do Porto em Vitória.
» Turisnotas
No café da manhã do business floor do Bahia Othon, os manjares dos deuses são servidos por uma autêntica representante dos céus
» Editorial
A responsabilidade de Lula
» Boca Miuda
Tudo sobre os bastidores da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva
» Triângulo
Em julho de 2002, o senador Antonio Carlos Magalhães já profetizava a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva
Autos

No pátio do elegante Resort Bacara, ao norte de Santa Bárbara, três novos Saleen S7 estão estacionados lado a lado. Sua criação foi inspirada nos carros de corrida da Le Mans, aos quais se assemelham bastante, com o mesmo estilo, rebaixados quase até o chão, e com sua estrutura em fibra de carbono. Nas proximidades, pela manhã, um grupo de agentes da Lehman Brothers aguarda o início do seu seminário sobre investimento. Um deles brinca,  
perguntando a si mesmo até onde ele poderia subir em sua carreira, para poder adquirir um Saleen de 395 mil dólares.  
É óbvio que eles iriam preferir deslizar sobre a cadeira do motorista e sair do que ficar sentado especulando sobre o mercado. E mesmo que eles conseguissem acumular pontos suficientes no seminário, obtendo certo sucesso, iriam descobrir que entrar no Saleen, no sentido literal, requer mais do que a habilidade de preencher um cheque.  
 
O Saleen tem apenas um metro de altura, e o ato de entrar no automóvel requer a mesma performance exigida para o 300SL Gullwing Mercedes-Benz: coloque uma mão no teto, levante sua perna direita colocando-a dentro do carro, desloque o peso do seu corpo, levante a perna esquerda, colocando-a dentro do S7 e deslizando, caia sobre a poltrona, que é direcionada para o centro, como nos carros de corrida. Assim tem início, logo pela manhã, o test-drive do super carro americano de Steve Saleen que, elaborado há 2 anos, representa o auge de sua carreira de 18 anos.  
Quaisquer dúvidas sobre se vale ou não a pena distender um músculo ou machucar as costas para entrar num carro como este são apagadas, ao observar-se o velocímetro, onde se pode ver a velocidade máxima, 240 milhas/h (386 km/h). Isto significa que este carro é capaz de andar a uma velocidade superior a 6,4 km por segundo, se você estiver numa estrada onde possa correr tanto assim.  
Dê a partida no Saleen, e você será recompensado com a cacofonia mecânica de um V8 550-hp, 7- litro (verificar se não é 7.0. Se for, não precisa usar “litro”. Use apenas “7.0”), localizado próximo à sua cabeça. Apesar de haver certo isolamento do motor, há uma repercussão na cabine do motorista, de sua potência desenfreada, à qual você se sente diretamente conectado, como você se sentiria também dentro de um Mustang P-51. O pedal da embreagem deve ser pressionado para evitar um desgaste na máquina. Dá para sentir imediatamente a força do motor do S7, como a de um cavalo puro-sangue antes do seu galope matinal.  
Fortes emoções – Passo em frente à porta do hotel e tomo a direção sul, na Highway 101, ignorando os outros motoristas, todos olhando curiosos para o carro, e me concentro no S7. Há várias emoções para absorver. Com apenas uma leve pressão no acelerador, o S7 avança incrivelmente. Sua direção tem a rapidez de um video-game. É preciso certa precisão nos movimentos da direção, o que vem à medida que você se acostuma com ela.  
As mudanças na engrenagem são diretas. O engenheiro Billy Tally, responsável pelo Saleen, declarou que a intenção foi manter o motorista diretamente conectado à máquina, como num carro de corrida. “Há tanto torque que você irá rapidamente sentir que, em certas marchas, quem faz todo o trabalho é o motor, com sua enorme força de tração. Com 4.000 rpm, você terá 427 polegadas e 520 ft lbs de torque”.  
Dirigir o S7 em vias públicas é um desafio, devido ao amarelo brilhante da pintura e ao visual sofisticado do carro. Felizmente, para parta a realização do test-drive, a equipe do Saleen isolou a Foxen Canyon Road, que leva às montanhas de Santa Ynez, para que eu pudesse testar seus limites.  
A direção é extremamente firme, e a suspensão é muito sensível às irregularidades da pista, como um carro de corrida. A embreagem do S7 é excepcional, mesmo em velocidade baixa. Steve Salen, fundador e presidente da companhia, afirma que a aerodinâmica do carro é tão eficiente (como um túnel de vento, e 64 canos de descarga e aberturas, para facilitar a circulação do ar) que você poderia dirigir de cabeça para baixo a 250 km/h sem perder o controle. Decidi não testar esta teoria.  
À tarde, com Steve Saleen dirigindo, descemos por uma série de estradas com muitas curvas, que leva até Jalama Beach, andando em alta velocidade, aproveitando o que um carro inferior nunca poderia nos proporcionar. Saleen comentou “Há uma grande sensação de bem-estar, e ao dirigir, você estabelece seus próprios níveis. Você não pode jogar fora o carro, a menos que faça algo deliberadamente estúpido. O S7 tem o mesmo feeback de um carro de corrida. Já comentei que ele é muito, muito rápido, não é?”  
Intenção – Alguns acham que o S7 é apenas uma maneira que Saleen, que fabrica seus carros em Irvine, Califórnia, encontrou para provar, mais uma vez, que ele pode fazer um carro de corrida competitivo, resistente. De fato, representantes do Automóvel Clube do Oeste, organizadores oficiais da Le Mans, estiveram no Resort Bacara para ver e dirigir o S7. Saleen afirma que sua intenção sempre foi apresentar aos motoristas um carro de corrida para andar nas ruas, e não adaptar, com refinamento, um carro de corridas.  
(O seu modelo de corrida S7R 600-plus-hp, a propósito, ganhou 4 campeonatos GTS em 2001 – incluindo as etapas européias e americanas Le Mans – com 27 pole positions, ganhando 19 em 32 corridas.) Com esta finalidade, o S7 é todo reforçado, e entre outras particularidades, tem suspensão, escape e pedais de freio especiais.  
Para fazer um bom negócio também, você pode optar por uma Ferrari 575 Maranello ou um Aston Martin V-12 Vanquish. Ambos têm um visual incrível, 4 cilindros a mais que o S7, avançados recursos eletrônicos – sem mencionar seus pedigrees de corrida de longa data. Os dois carros mencionados são capazes de atingir velocidades obscenas nas ruas, estimulando seu coração do jeito que você gosta. Tudo isso nos leva a perguntar quais os motivos que levariam uma pessoa a comprar o S7 – e porque alguém como Saleen planejaria vender cerca de 400 S7 nos próximos 4 anos?  
Em primeiro lugar, nenhum outro carro do nível do S7 iria provocar tantas emoções, e nem causaria tanto impacto visual. Segundo, os verdadeiros conhecedores admitem e apreciam a natureza descompromissada do Saleen. É um carro que realmente não deveria jamais ser deixado sozinho nas ruas.  
É muito rebaixado, frágil e veloz. Mas, dentro da cabine, você deve se conscientizar de que vai dirigir um S7. “Ele é americano. É agressivo. Ele tem uma herança de corrida de carro. É um carro de corrida para rodar nas ruas, uma fantasia que se tornou realidade.”  
 
Steve Saleen lança sua marca  
De Henry Ford a Ettore Bugatti, e a John DeLorean, os fundadores de companhias de carro vêm há muito tempo buscando a imortalidade. Embora a história apresente nomes como Duesenberg, Cord, Tucker e, mais recentemente, Oldsmobile, que foram esquecidos, outros homens determinados não desistiram da idéia. O último é Steve Saleen, que aos poucos está se tornando imortal, na rarefeita atmosfera de super-carros top de linha, e de alta performance, área exclusiva da Ferrari, Lamborghini, Porsche e McLaren.  
Saleen orgulhosamente apresentou seu Saleen S7, um super carro, motor de 550-hp, 200-plus-mph, em agosto de 2000, em Monterey, no Historic Automobile Races. Rodeado por membros da imprensa especializada e dúzias de curiosos, Saleen declarou confidencialmente que esperava vender de 300 a 400 S7, no valor de 395 mil dólares, num período de 4 anos. “Sempre sonhei em construir um super carro”, declarou Saleen, “e aqui está ele finalmente.”  
Alguns consideram tal sonho impraticável, devido à dificuldade envolvida em competir com marcas já estabelecidas. Saleen, que além de construir carros também participa de corridas, possui experiência valiosa na área. Sua companhia produziu 8 mil veículos nos últimos 18 anos, e atualmente fabrica modelos de alta performance, sob encomenda, incluindo o S281, que foi baseado no Mustang. Através de uma aliança com a Ford, este carro e outros modelos modificados SUV são distribuídos por seletos revendedores Ford. Claro, nenhum dos outros modelos de Saleen custa tão caro quanto o S7.  
Como Saleen, quase todos os fabricantes que assinam seu nome nos carros gostariam que eles fossem os melhores no mercado. Então o carro teria o preço muito elevado, o que levaria a um fracasso. Bugatti criou o arrogante e impraticável Type 41 Royale e acabou perdendo dinheiro. O TAV12, dos irmãos Bucciali, foi o hit do Paris Auto Show, em 1932, mas o carro em si era insignificante. Logo depois a companhia foi à falência. Mais recentemente, surgiu o Ciseta Moroder V16; Carroll Shelby e seu Series 1 têm tentado atingir suas metas. Saleen, entretanto, não tem problemas com relação a financiamento, e seus carros apresentaram excelentes desempenhos anteriores nas pistas. Seu S7 tem um design intrigante, com monobloco em liga de aço, painéis estruturais em composto de fibra de carbono, criados pelo famoso fabricante inglês Ray Mallock, aerodinâmica testada na Universidade de Glasgow, e suspensão dupla toda em alumínio, freios em liga de metal, com seis enormes pistões Brembo, e rodas forjadas em magnésio. Seu sistema interno foi especialmente desenvolvido, com tubo de distribuição em magnésio. Válvulas de aço inoxidável, com retentores de titânio, são encontradas nos cabeçotes de alumínio polido CNC. Há um exclusivo sistema acessório de direção do motor, montado na frente, cárter de alto vácuo e sistema de escapamento em aço inoxidável.  
A companhia de Mallock constrói o chassi e a suspensão no Reino Unido, enviando as partes para Saleen na Califórnia, onde o motor e a transmissão são instalados e o carro completo é testado nas estradas.  
O S7 parece com a Lamborghini Diablo. Seu design não é tão fluido como o F50 da Ferrari, mas ele certamente desempenha toda a performance do F1 da McLaren (que usa um BMW 4-cam V-12 modificado), por menos da metade do preço da McLaren, avaliada em 1 milhão de dólares. Assento assimétrico, aerodinâmica especial, com 64 canos de descarga e frestas para ventilação, rebaixado, com a altura máxima de 10 cm do chão, e um pequeno porta-malas, o S7 revela-se definitivamente como um carro de corrida disfarçado, que foi autorizado a rodar nas ruas.  
 
Ano passado os proprietários do BMW 7 Series foram apresentados ao iDrive, que com um toque no centro de um console e um monitor no painel, controla todas as funções do carro, eliminando todos os botões e interruptores que existem no interior dos sedans de luxo. Embora pareça novo, tal sistema já vem funcionando há algum tempo. Três anos atrás, antes do 745i ter sido colocado à venda, outro carro já apresentava o sistema iDrive.  
Em 1999, a BMW apresentou o Z9 Gran Turismo, um carro de duas portas, criado por um designer da BMW chamado Adrian van Hooydonk, que apresentava um mecanismo similar. O sistema iDrive do Z9 era bem mais eficiente do que a versão atual – o 7 Series ainda inclui vários botões no painel para controlar a temperatura da cabine, e o monitor iDrive fica permanentemente em exibição. Já o painel do Z9 era destituído de dispositivos, e o monitor podia ser ocultado quando não estava sendo usado. “Nós ainda não atingimos o mundo ideal do carro, mas já demos alguns passos nesta direção”, comenta van Hooydonk sobre o 7 Series.  
Existem limitações num modelo real de carro, comparando-o com um carro idealizado, cujo design é limitado apenas pela imaginação. Para os designers e fabricantes, os carros idealizados representam uma oportunidade de deixar a funcionalidade de lado e construir uma máquina que visualize o futuro, ao mesmo tempo aproveitando a herança da companhia, permitindo que um entusiasta da Mercedes-Benz, por exemplo, observe um SLR Vision, um carro projetado, e imediatamente reconheça nele sua marca favorita.  
Para motoristas, um carro como estes pode indicar a direção para a qual um fabricante de carros vá se movimentar, fornecer plataforma para críticas, e algumas vezes causar tristeza, pois ele não está à venda como um carro comum. E, enquanto marketing, pesquisa e publicidade são os objetivos primários, por trás da criação destes carros, eles também representam a visão de designers, tais como Ian Callum, diretor de design da Jaguar. Callium trabalhou no R-Coupe, um carro de 2 portas que foi apresentado ano passado. “Olhando para o R Coupe, a maior emoção para mim é saber que ele poderia ser real”, comentou Callum.  
Imaginação – Seu interior foi revestido, ilusoriamente, por um extravagante folheado de madeira compensada em tom escuro, que se estende por toda a cabine, e fica fácil imaginar o seu poderoso motor V-8 numa auto-estrada.  
É tão fácil como visualizar o Z9, com seu monobloco de fibra de carbono e alumínio, impulsionado por um motor diesel 3.9, deslizando sobre as curvas fechadas da estrada de um canyon.  
Agora falaremos do carro de Herald Belker, um designer da Califórnia. Ele foi o criador de um veículo usado no filme “Minority Report”, de Steven Spielberg e Tom Cruise, que se passa no futuro, no ano de 2054. Para enfatizar a visão futurística de Spielberg, Belker projetou um carro vermelho esporte, com o formato de uma bolha, que seria capaz de correr em ruas cheias de carros e pedestres, em alta velocidade, sem se preocupar, graças a um sistema de controle guiado por laser.  
Lexus concordou em colocar sua assinatura no modelo futurístico, e a Cetek, uma empresa de design e desenvolvimento, construiu o carro do futuro. “As pessoas geralmente associam estes carros do futuro com alguma coisa já vista anteriormente”, declarou Belker. “Eu tentei criar um carro com características que não se assemelhavam a nada visto antes”.  
Tempo – Em vez de avançar 50 anos no tempo, como Belker fez, Van Hooydonk e outros designers pensam 5 anos à frente, mesclando idéias sobre estilos nunca vistos antes com tradições de marcas. Quando eles liberam seus carros, compradores em potencial podem ver as máquinas, e discutir o que gostam e o que não gostam com os fabricantes, influenciando no design dos próximos modelos de produção.  
“Estamos trazendo modelos do futuro, e exibindo-os”, declarou van Hooydonk, presidente do Designworks/USA, estúdio de design da BMW na Califórnia. “De repente, o consumidor pode fazer um julgamento. Este é o verdadeiro objetivo destes carros. Se não mostrarmos estas coisas, o futuro pode não acontecer. Mas, logo que você mostra algo, isto se torna parte da realidade atual. Nós manipulamos o futuro.”  
Inspiração – O Mercedes Vision SLR, um carro de dois lugares apresentado em 1999, serviu de inspiração para a capota alongada e linhas originais do Mercedes-Benz SL500, do ano de 2003. O mais recente carro projetado, o CS1 da BMW, servirá como inspiração para veículos da companhia que estarão à venda no ano de 2004. O Jaguar R Coupe pode servir de inspiração para um futuro carro top de linha, “O R Coupe não é perfeito, nenhum carro é”, comentou Callum. “O que estes carros indicam são os valores e a filosofia do lugar para o qual nossos carros estão indo.”  
Embora algumas vezes os admiradores literalmente não saibam para onde esses carros estão indo – não dá para se saber qual é a frente do carro feito para o “Minority Report” –, muitos estão certos do local onde estes veículos devem estar: suas próprias garagens. A reclamação que os designers mais escutam é de que tais carros não estão à venda. Com o R Coupe estacionado numa sala próxima, Callum estava falando numa conferência em Londres quando um dos convidados perguntou quando é que o carro estaria à venda. Quando Callum explicou que só haveria um carro, o convidado ofereceu cerca de 100.000 libras pelo veículo, ou seja, quase 150 mil dólares.  
Escolha – Para os designers especializados, criar é mais um prazer do que uma tarefa, e van Hooydonk considera o processo excitante e fantástico. Ele sabe que a BMW escolheu entre os esboços de outros 20 designers antes de decidir sobre o design final do Z9.  
Belker, que teve apenas três semanas para fazer o design do carro do filme “Minority Report”, usando esboços e material em três dimensões, não sabia se realmente o veículo seria a máquina que ele havia imaginado. Ele passou várias horas projetando o carro, e quando Spielberg sugeria mudanças, Belker voltava ao trabalho e fazia uma revisão no que estava pronto. Ao ver pela primeira vez o carro Lexus pronto, Belker ficou felicíssimo. “Meu Deus, o que foi que eu fiz?”, gritava.  
Nos últimos tempos, o design de carros como estes que foram vistos aqui devem provocar até mesmo certa adoração. Existe muita imaginação, inspiração e tecnologia envolvidas no processo, unindo o melhor do passado e do futuro em máquinas perfeitas, que até mesmo os seres divinos gostariam de dirigir


Sonhando com o SALEEN
De volta ao futuro
Adrian van Hooydonk, responsável pelo design do Z9 Gran Turismo, com suas linhas pronunciadas e onduladas no exterior e um interior bem clean
Mercedes-Benz F-400

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