Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 330
Data:
15/7/2003
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» Momento Festa
Momento especialíssimo para a família Barreto que nos quinze anos de Mariana
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50 anos depois, filhos repetem a odisséia de Edmund Hillary e Tenzing Norgay, indo ao cume do Everest
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Muito mais que uma versão conversível do Ford Ka, o StreetKa chega para esquentar o inverno
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E os aniversariantes do mês, Marcos Pinheiro e Michel Telles, colunistas do jornal "Tribuna da Bahia".
» Turismo
As ilhas encantadas
» Turisnotas
Mar e montanha no ES
» Ciência
Veja até que ponto o DNA condiciona o caráter e os traços fisionômicos, segundo a genética comportamental
» Triângulo
Samarco sai na frente e fecha acordo com a européia Arcelor, maior produtora de aço do mundo
» Editorial
Cara nova?
» Boca Miuda
Sonho do vice-prefeito Ademir Cardoso é aproveitar indefinição política e eleger-se prefeito de Vitória
Entrevista

“Sou um pesadelo”  
Robert Cohen é o mais temido advogado dos Estados Unidos especialista em divórcios. Conseguiu para Ivana Trump uma indenização de 20 milhões de dólares.  
Ele assume que é uma figura polêmica em Nova York e não esconde as suas origens humildes. Robert Cohen, temido por uns e odiado por muitos, é um cínico absoluto, mas também tem seu lado humano.  
O sr. é conhecido nos Estados Unidos como o "assassino", o "doberman", ou o "pior dos pesadelos". Sente-se ofendido ou lisonjeado com esses apelidos?  
Sinto-me honrado. Nasci de uma família muito pobre e estou muito feliz com meu êxito. Sinto-me lisonjeado quando algumas das pessoas mais poderosas dos Estados Unidos me telefonam para representá-las no divórcio.  
Já recebeu ameaças de morte por parte de maridos enraivecidos?  
Nunca. Mas sou seguramente uma figura polêmica em Nova York. Antes de ir a um jantar oficial, estudo primeiro a lista de convidados. Já aconteceu cruzar-me com adversários que recusaram sentar-se à mesma mesa ou se levantaram quando cheguei. Também para mim são situações bastante desagradáveis.  
No ano passado, no processo de divórcio do casal Welch - até aqui o mais caro e mais polêmico divórcio já realizado nos EUA - a mulher do antigo presidente da General Eletric forneceu ao Tribunal documentos secretos da empresa para conseguir uma indenização no valor de 500 milhões de dólares. Acha certo uma esposa tentar enriquecer a custa do sucesso de uma empresa?  
A minha opinião depende sempre do lado que represento. É claro que, para um antigo presidente de um grupo empresarial, como Jack Welch, é sempre violento ser obrigado a pagar uma quantia como esta pela qual teve de trabalhar duro. A senhora Welch revelou que a General Eletric se comprometeu a pagar ao marido até ao fim da sua vida todas as contas de restaurante, de lavanderia e até as lâmpadas dos seus seis apartamentos.  
O que está sendo debatido agora é se uma esposa tem direito ao acesso às contas de despesas do marido. Os grandes grupos econômicos têm algum receio quanto à confidencialidade de documentos internos.  
Por sua vez, Jack Welch denunciou que a mulher mantinha uma relação com o motorista italiano. Essa informação trouxe-lhe algum benefício do ponto de vista financeiro?  
Em Nova York, foi reintroduzido há alguns anos o princípio da culpabilidade. Motivos para pedir um divórcio são, por exemplo, o adultério ou o comportamento cruel. Pessoalmente, considero isso um perfeito disparate. Só faz com que os divórcios se tornem mais sujos e mais caros.  
Isso, para o sr., é bem proveitoso?  
Os meus honorários não dependem do valor da indenização, mas é verdade, que, às vezes, recebo honorários bastante elevados.  
Quanto cobra a hora?  
Seiscentos dólares. Sou rápido para trabalhar.  
O sr. já representou o  mayor  de Nova York, Michael Bloomberg, a mulher de Robert de Niro, Grace, e Ivana Trump. Os ricos sofrem mais com o divórcio do que os pobres?  
O pesadelo é o mesmo. Independentemente de ser o professor primário que perde a sua casinha no valor de 200 mil dólares ou o industrial que perde o seu patrimônio de 100 milhões. Os medos são os mesmos. A diferença é que os clientes ricos são mais exigentes. É mais freqüente telefonarem-me no meio da noite.  
Recentemente, o sr. publicou um guia matrimonial. Foi a forma que encontrou para pagar pelos seus pecados?  
As pessoas que vêm a mim querem o "assassino". Para muitos, é o negócio da sua vida. Tenho a capacidade de fazer vingar as suas pretensões; mas também posso ajudar a salvar o casamento.  
O advogado mais implacável de Nova York no papel de psicólogo matrimonial?  
Acredite. Divorciei-me duas vezes e falo por experiência. O pior casamento é sempre melhor do que um divórcio traumático. Digo aos meus clientes sem rodeios: você vai passar pela pior fase da sua existência, vai ler as coisas mais íntimas sobre a sua vida, vai assistir seus filhos ficarem traumatizados, deixará de conseguir dormir, de desempenhar o seu trabalho como deve. Será um inferno.  
E, ao mesmo tempo, vai pondo lenha na fogueira, ao levar os seus clientes a revelarem os segredos mais íntimos?...  
É meu dever conhecer as histórias mais bizarras para não permitir que o advogado do adversário se sirva delas para extorquir dinheiro ao meu cliente. Como, por exemplo, no caso daquele homem, administrador de uma grande empresa norte-americana, que ao fazer sexo gosta de se fantasiar de galinha. Seria terrivelmente incômodo para ele que as pessoas tivessem diante dos olhos a sua imagem vestido de galinha.  
Levados pela febre da vingança, os famosos gostam de revelar os detalhes mais sórdidos, como recentemente aconteceu com o seu cliente James Gandolfini, protagonista de "Os Sopranos e a Mulher".  
Foi uma coisa bastante feia. A mulher acusava-o das coisas mais horrendas: amantes, drogas, álcool. Dou graças a Deus por terem chegado a um acordo. Acontece que os divórcios entre pessoas famosas recebem muito destaque na imprensa. Quando Michael Douglas se divorciou, recebeu imensa publicidade e, além disso, casou-se com aquela mulher lindíssima, a Catherine Zeta-Jones. A mensagem "homens, divorciem-se, pois as coisas só podem melhorar!" é um absurdo.  
De acordo com a imprensa especializada, o primeiro casamento de Michael Douglas fracassou por ele estar viciado em sexo. O segundo casamento tem melhores perspectivas?  
Tenho a impressão de que tem grandes. Hoje em dia, esse tipo de vício é tratado numa clínica no Arizona. Geralmente, porém, os segundos casamentos estão desde logo sujeitos a uma enorme pressão por causa da família anterior. Já assisti a tantos divórcios em que ela odiava os filhos dele e vice-versa.  
Quais são os motivos mais freqüentes para um divórcio?  
Dinheiro. Quando um dos parceiros tem o dinheiro e o outro já não suporta o desequilíbrio das forças. Mas a razão principal são os casos extraconjugais. Há o exemplo da mulher, casada há 20 anos com um homem com uma carreira de êxito, mãe de três filhos, que quer o divórcio, dizendo que ela e o marido se afastaram. Quando insisti, acabei descobrindo que ela tem um caso com o jardineiro.  
Já por duas vezes, o sr. enfrentou Donald Trump na barra dos tribunais. O multimilionário não aprendeu com o primeiro divórcio de Ivana?  
No segundo casamento, com Marla, provou-se que é importante conhecermos os antecedentes do parceiro. Mesmo assim, foi inteligente a ponto de ter celebrado um pacto antenupcial. Não me canso de dizer aos meus amigos para não se esquecerem do pacto antenupcial.  
O que o sr. alteraria nas leis de divórcios americanas?  
Iria torná-las muitíssimo mais simples. É uma lei complicada demais, sobretudo no que se refere aos aspectos financeiros.  
As autoridades do Estado de Luisiana dificultaram, recentemente, o recurso ao divórcio.  
Em três ou quatro estados do sul, foram criados os chamados  Cooling Off Periods  (períodos de arrefecimentos dos ânimos) para pessoas que queiram divorciar. Antes de se divorciar, devem dirigir-se aos serviços de aconselhamento matrimonial. Existe nos EUA uma enorme pressão no sentido de fazer alguma coisa contra as elevadíssimas taxas de divórcio. O presidente Bush falou na hipótese de criar incentivos financeiros para os casais. É um disparate. Não se pode obrigar as pessoas a ficarem juntas.  
O número de clientes diminuiu com a crise econômica?  
Não. Tenho imenso trabalho. Assuntos do coração não são certamente decididos em função do bolso. As pessoas continuam a divorciar-se. Este século promete ser pior do que o século passado.  
Qual é a solução?  
Tal como afirma Danny de Vito, no filme "A Guerra das Rosas", pessoas que gostam e gatos deveriam casar com pessoas que gostam de gatos e pessoas que gostam de cães com pessoas que gostam de cães. Se bem que as personalidades sejam um pouco mais complexas do que isso. É freqüente escolhermos alguém que tenha as mesmas fraquezas que nós. Uma pessoa que gosta de beber casa-se muitas vezes com outra que bebe. Assim, ninguém pode ficar admirado se o casamento fracassar.  
Foi a experiência que o transformou num cínico?  
Seguramente. Nunca compreendo a crueldade que as pessoas desenvolvem no relacionamento com o outro. Mas depois conheci a minha terceira mulher. Hoje, sei que o casamento pode ser algo de fantástico.  
Teria desejado que as suas ex-mulheres o tivessem como advogado?  
Claro. Recomenda-me-ia a qualquer pessoa.  
Qual foi o divórcio mais curioso da sua carreira?  
Um fulano estava indicado para ocupar uma posição de destaque em Washington. Tinha uma amante e a mulher estava cheia de ódio, ao ponto de lhe querer tirar tudo. O casal tinha três limusines e um Volkswagen. Ele estava disposto a lhe dar os três automóveis de luxo. Quando, após anos de duras negociações, chegamos finalmente ao momento da assinatura o acordo, ela puxou-me para o lado e disse: "Quero o Volkswagen". Respondi que ela deveria estar louca, pois estava pondo tudo a perder. Manteve-se impávida. Quando isso chegou aos ouvidos do marido, ele ficou passado. Esse homem distinto, de camisa branca, gravata e sapatos polidos, subiu para a mesa da conferência, tirou a gravata, o terno, a camisa e os sapatos. Observávamos a cena com incredulidade. Foi então que despiu também as cuecas, agarrou nos testículos e disse: "Se também quiseres o suor dos meus tomates, toma!" Depois, desceu da mesa. E ela ficou com o Volkswagen  
 

  
Robert Stephan Cohen

Grace Hightower contratou Cohen para a representar no divórcio de Robert de Niro

A mulher de James Gandolfini da série "Os Sopranos", acusou-o de comportamentos horríveis.

O advogado representou as duas mulheres do milionário



No filme "A Guerra das Rosas", Kathleen Turner e Michael Douglas retratam um casal que ora se ama, ora se odeia.

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