Detalhes sobre Trilhos

domingo, 4 de outubro de 2009

Outro dia, comparando a Alemanha à locomotiva do continente europeu, atribui toda a responsabilidade pelo desenvolvimento do velho mundo àquele cavalão de ferro que todo garoto sonha um dia em manobrar e conduzir.

Detalhes sobre Trilhos




Naquela hora me lembrei de uma viagem de trem num daqueles vagões de compartimento único, indo com parentes e amigos de Amsterdam a Heidelberg. Aproveitamos o leve e monótono ruído, aquele "tuqui-tuqui" das rodas sobre as emendas dos trilhos para iniciar uma batucada... chamando a atenção dos demais passageiros.

Hoje desconfio que eu tenha exagerado, dando àquele pesadíssimo monstrengo metálico movido a vapor, óleo Diesel ou energia elétrica muito mais importância do que devia.

Pensando bem, locomotivas nada seriam sem os dormentes, os trilhos, sem os ferroviários que cuidam da segurança, do fluxo dinâmico das composições... e principalmente sem os passos apressados de uma multidão pacata de passageiros.

Tudo isso pertence à Europa com a naturalidade como o sangue que circula em nossas veias e artérias.

O que nos países industrializados há séculos faz parte das paisagens, como os próprios vales por onde passam as ferrovias, com os silvos dos chefes das estações tendo importância igual à sirene das fábricas, o batimento do coração de cada um... de Lisboa, passando por Paris, Viena, Moscou até a China e o Extremo Oriente, de Antenas até Hammerfest, de Oostende até Istambul... da Costa Leste da América do Norte até a Costa do Pacífico...

O que nos países industrializados tem jeito de algo perene e imutável, no Brasil parece efêmero, tendo importância pontual, dependendo de interesses econômicos e políticos instáveis... e do preço de certos commodities.

Tem sido assim com a ferrovia Madeira-Mamoré, com a linha de Iaçú a Senhor do Bonfim, da qual eu era usuário há uns 40 anos, viajando de Jequitibá a Jacobina.

Ferrovias que já não existem mais há muitos anos.

Permanecem no local apenas as ruínas de estações e pedaços de trilhos transformados em "mata-burros" que dividem pastagens de fazendas de gado.

Mesmo passando apenas uma vez por dia, o próprio trem e também as estações pareciam ter mais vida do que as ferrovias da Europa.

Ainda me lembro da expressão de surpresa no rosto dos demais companheiros de viagem naquele vagão entre Amsterdam e Heidelberg ao escutar a nossa batucada.

Aqui na Bahia, além de toda vida, há ainda um outro ingrediente para colorir o que lá fora é massacrado e extirpado por uma pontualidade banal, asséptica e sem graça: o "peraí".

Nos ouvidos de minha imaginação já está soando a batucada num ônibus cheio de banhistas aos domingos... além das cornetas de torcedores do Baêêa voltando da novíssima Fonte Nova via Campo da Pólvora até a Rótula do Abacaxi, com o "peraí" sendo entoado em uníssono em cada uma das três estações ao longo do caminho...




- Ué... acabou? Que crônica curta!

- É para combinar com o tamanho do trajeto do Metrô de Salvador -


Autor: Reinhard Lackinger
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Existe 1 comentário para esta publicação
quinta-feira, 1/10/2009 por Ossamu
Similaridade
Pardon Her Lackinger,mas para está crônica ficar parecida com o metro de salvador,teria de demorar mais de dez anos para ser escrita e ter consumido milhões de dollares nesse processo.Com o metro,sua crônica tem mera similaridade rsrsr
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