Sinfonia austríaca

terça-feira, 6 de março de 2012

O crescimento da cultura vitivinícola e do turismo de inverno na Áustria é antigo. Há mais ou menos dois mil anos os vinhedos vêm se multiplicando na parte leste do país. As paisagens deslumbrantes das províncias do oeste, como Tyrol, Salburg e volrarberg são mais conhecidas por proporcionarem boas doses de diversão aos esquiadores, uma vez que nessa parte do território austríaco o clima não beneficia o cultivo de uvas.

Sinfonia austríaca

O clima mais ameno, não tão frio, e solo mais plano do leste, entretanto, possibilitam que as vinhas cresçam perto de rios como o Danúbio e lagos como o Neuseiedlersee. A Áustria possui 40 mil hectares destinados ao cultivo de uvas.

Como as propriedades são pequenas - acredita-se que o número de viticultores seja igual ao de hectares, ou seja, o tamanho médio de uma vinícola austríaca é de apenas um hectare - os vinhos austríacos não são muitos bem distribuídos no mercado mundial. Somente alguns produtores, como Lenz Moser, e algumas coorporativas produzem a quantidade suficiente para fornecer seus vinhos ao mercado internacional.

Apesar do longo período em que a Áustria vem produzindo vinhos, foi somente depois de 1985, quando um escândalo destruiu todo o mundo dos vinhos austríacos, que uma verdadeira revolução ocorreu. Jovens produtores e enólogos percorreram o mundo para saber exatamente como os vinhos eram feitos em Bordeaux, na Califórnia, na Toscana, na Austrália etc.

Quando voltaram, trataram de introduzir todos os novos conhecimentos e experiências nas propriedades de seus pais. Como se pode imaginar existiu muitos conflitos entre as diferentes gerações. Enquanto os filhos ansiavam pela renovação e acreditavam no futuro, os pais receosos tentavam evitar as mudanças. No final, as mudanças venceram e a Áustria começou a produzir vinhos verdadeiramente bons.

As diferenças de clima, solo e tipos de vinhos das regiões produtoras austríacas são significativas. A região do Wachau Valley, nas proximidades do rio Danúbio, é uma das mais pictóricas: um vale dividido em "terraços", no qual vinhas crescem sobre rochas. Os Riesling são os mais famosos dessa região.

Os produtores do vale de Wachau criaram uma associação, denominada Vinea Wachau, com o objetivo de garantir a imagem de qualidade dos vinhos produzidos nessa região. Fundada em 1983, a Vinea Wachau criou três categorias para classificar seus vinhos, levando sempre em conta o clima e as condições geológicas: Steinfeder, vinhos mais ligeiros; Federspiel, vinhos nobres; e Smaragd, os grandes vinhos de Wochau.

Outra região que deve ser lembrada é a Burgenland, na parte mais a leste. O clima mais continental é responsável por um Verão mais quente, noites mais mornas, inverno intenso e outonos ao mesmo tempo ensolarados e nebulosos. Somando-se essas características, nota-se que um vinho encorpado e menos áspero é produzido nessa parte menos fria e montanhosa da Áustria, reconhecida por produzir vinhos tintos de qualidade, a maior parte deles elaborados com uvas regionais como a Blaufränkisch ou Zweigelt, mas também com uvas internacionais como Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir.

Nas redondezas do lago Neuseiedlersee, o clima é perfeito para a produção de uvas doces. Os vinhos doces de sobremesa austríacos são tradicionais e conhecidos graças à alta concentração de açúcar e acidez que possuem. Além disso, são bons vinhos para guarda.

Mas os vinhos doces austríacos tiveram seus dias de duras penas. Durante os anos 80 e 90, havia um desinteresse enorme em relação a esses vinhos em todo o mundo. A maioria dos investidores estava voltada à produção de vinhos secos.

Mudanças ocorreram e, atualmente, Alois Kracher, que produz vinhos desse tipo, é com certeza o mais famoso produtor do país, ganhador do Wine Magazine´s Internacional Winemaker of the Year em 1994. Ele foi um dos poucos que não deixou de acreditar nos vinhos doces. Quando, em 1981, dizia que os vinhos de Seewinkel (localidade de Burgenland) seriam um dos melhores dessa categoria no mundo, até seu pai mostrava-se cético. No ano de 1991, uma safra excepcional viria concretizar os presságios de Kracher, fazendo-o abandonar seu trabalho para se dedicar exclusivamente à produção de vinhos.

Alois Kracher usa dois métodos de vinificação. O tradicional emprega barris de acácia e salienta a pureza dos aromas de frutas. A qualidade de álcool é de aproximadamente 10%, a de açúcar 250 grama por litro. Esses vinhos foram denominados pelo produtor "Zwischen den Seen" (entre os lagos). O método internacional é baseado na tradição dos Sauternes. Conhecidos como "Nouvelle Vague", esses vinhos possuem 13% de álcool e são armazenados em pequenas barricas francesas.





Orgulhosos principalmente pelas safras de 1991, 1995, 1998, 1999, os austríacos agradecem o clima especial e único dessas regiões e vêem como fator determinante para colheita de uvas harmonicamente maduras e de boa acidez.


Autor: Celso Mathias
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