A temperatura do vinho I

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A temperatura é um dos mais importantes fatores de qualidade na apreciação de um vinho. Servido demasiado quente ou demasiado frio pode ficar irremediavelmente comprometido o seu desempenho à nossa mesa. Nestes dias de calor há de se estar bem atento ao termômetro e, principalmente não ir naquela cantiga do "tinto à temperatura ambiente".

A temperatura do vinho I


Os termos "fresco" e "temperatura ambiente" não significam nada de concreto.

A temperatura é um dos mais importantes fatores de qualidade na apreciação de um vinho. Servido demasiado quente ou demasiado frio pode ficar irremediavelmente comprometido o seu desempenho à nossa mesa. Nestes dias de calor há de se estar bem atento ao termômetro e, principalmente não ir naquela cantiga do "tinto à temperatura ambiente".

O verão aí está com as suas altas temperaturas. Há que escolher uma sombra, uma sala com ar-condicionado, ter cuidados com o sol, comer comidas leves e beber bebidas frescas. E quanto ao vinho?...

"O branco fresco e o tinto à temperatura ambiente". Este é ainda o lugar comum do serviço de vinhos. Maior asneira é difícil de encontrar. A interpretação à letra desta regra leva a cometer atrocidades um pouco por todo o lado onde o vinho é consumido. Contou-me um amigo que, em viagem pelo Nordeste, lhe fora servido num restaurante um tinto à singela temperatura de 35ºC. O dito amigo costuma fazer-se acompanhar por um pequeno termômetro pendurado no bolso da camisa. Assim que o vinho lhe caiu no copo, naquele dia de extremo calor, sacou a peça que mergulhou no líquido escuro e ficou a observar, sem surpresa, a coluna de mercúrio subir até o número 35. Como o tinto é servido à temperatura ambiente, aí estava um vinho que de tão quente que estava o ambiente, só lhe faltou aquecê-lo.

Recordo-me também, que há algum tempo almocei nas instalações de uma prestigiada e muito conhecida casa produtora de vinhos em Portugal. No meio de toda a formalidade de serviço da refeição, o branco chegou fresco com as paredes do cálice ficando de imediato cobertas de pequenas gotas de água e o tinto à temperatura ambiente. Não chego ao rigor do meu amigo e não costumo viajar de termômetro no bolso, mas calculei para mim mesmo que aquele tinto deveria andar pelos 25º de temperatura.

A seguir veio um Porto que, tal como é a tradição, foi servido em decanter para que os comensais lhe adivinhassem a categoria, origem e data da colheita. Devo confessar que apesar de apreciar este "jogo" de final de refeição (que mais não seja por ter espírito esportivo) naquele preciso momento não achei nenhuma graça na brincadeira. Tal como o tinto, vinha à temperatura ambiente.

Apesar da enorme falta a que o seu serviço era submetido, apresentava qualidade, mas no aroma o álcool atiçado pela alta temperatura sobrepunha-se às nobres essências de fruto e, na boca, uma vez mais, este elemento tornava a prova pesada e desinteressante. Em vez de elegância e sutileza que um vintage velho deve apresentar, apareceu a brutalidade e caráter boçal de um vinho demasiado alcoólico, muito doce e desequilibrado. Poderia escrever dez páginas com mais exemplos, mas penso que estes já chegam para expor o assunto em discussão.

O valor absoluto dos termos "fresco" e "temperatura ambiente" variam enormemente ao longo do ano. Aquilo que pode parecer quente no inverno parece-nos fresco no verão e vice-versa.

Esta enorme variação de temperatura que no Norte/Nordeste pode atingir algumas dezenas de graus centígrados torna extremamente relativos os termos da absurda regra, anteriormente referida. Por todo cuidado,Baco agradeçe!


Autor: Celso Mathias
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