Nervos À FLOR DA PELE

domingo, 24 de outubro de 2010

Taquicardias, suores frios, espasmos musculares, hiperventilação, tremores, náuseas, sensação de irrealidade, sensação de desmaio, de loucura e de morte iminente são os sintomas que acabam por levar as pessoas às urgências hospitalares. No entanto, ao final de dez minutos, os sintomas acabam desaparecendo. Uma situação estranha a juntar ao fato dos exames clínicos não revelarem nenhuma anomalia física.

Nervos À FLOR DA PELE


Nos últimos anos, têm vindo à tona várias descobertas que associam alterações genéticas a diversas patologias psicológicas. Desta vez, uma equipe de investigadores dirigida pelo geneticista Xavier Estivill descobriu que as perturbações de ansiedade surgem associadas a uma mutação no cromossomo 15. Essa alteração surge em cerca de 97% das pessoas que sofrem de perturbação de ansiedade generalizada e de ataques de pânico. Esta equipe de médicos acredita que essa mutação possa também estar associada a outro tipo de perturbações como a ansiedade crônica ou fobias. 

Esta descoberta foi fruto de uma investigação que começou há 10 anos quando o psiquiatra espanhol Antonio Bulbena sugeriu que as pessoas que chegavam ao seu consultório com problemas de lassidão muscular tinham mais probabilidade de sofrer perturbações de ansiedade do que os demais. 

Estivill estudou então 140 pessoas de várias famílias espanholas com histórias de perturbação de ansiedade, 70 pessoas sem qualquer antecedente familiar de ansiedade, e 189 que não sofria nenhuma perturbação deste tipo. Descobriu-se então que o material genético do cromossomo 15 surgia duplicado em 100% das pessoas do primeiro grupo, entre 68% e 70% no segundo grupo e apenas em 7% das pessoas do terceiro grupo, as que não tinham histórico de perturbações ansiosas. Foi desta forma que o médico espanhol determinou uma correlação genética em relação à ansiedade, que na sua opinião deve ser considerado um fator de risco e não um determinismo. A mesma experiência demonstrou que apenas entre 37% e 63% daqueles que apresentam a mutação acabam por sofrer de perturbações efetivas relacionadas com a ansiedade. Segundo Estivill “pode-se nascer com esta mutação ou desenvolvê-la durante o crescimento”. 

Sei que não há perigo, porém não consigo deixar de pensar que pode acontecer alguma coisa ao meu filho. Estou inquieto e não consigo descansar. Esta sensação pode durar meses. E acontece com alguma frequência. Por vezes pensamentos sem importância são capazes de me tirar o sono. Noutras vezes o coração dispara apressadamente sem qualquer razão aparente...” Esta poderia ser a descrição que um paciente vítima de perturbação de ansiedade generalizada faria do seu estado. Esta perturbação é uma patologia que se camufla com facilidade e que por vezes torna-se difícil de detectar. No National Institute of Mental Health, uma agência federal dos EUA que investiga as perturbações mentais, esta patologia aparece descrita da seguinte forma: “Um transtorno da ansiedade pode fazer com que o paciente se sinta inquieto sem qualquer causa aparente. A sensação chega a ser tão incômoda que pode levar o indivíduo a suspender atividades imprescindíveis do cotidiano, e nas suas manifestações mais extremas pode chegar a ser imobilizadora.”

Além de determinismos genéticos, o mecanismo interno que faz soar o alarme e põe o nosso organismo em estado de alerta pode ser afetado por fatores externos tão cotidianos como cansaço, a má alimentação, ou a nossa situação emocional. 

Do mesmo modo o sistema imunológico fica alterado e o organismo fica mais vulnerável às doenças infecciosas. Registrou-se, por exemplo, que os estudantes universitários contraem mais gripes e constipações quando chega a época dos exames. Além disso, uma produção de catecolaminas em excesso provoca uma hiperatividade permanente que pode provocar efeitos nefastos ao estômago, coração e pele. Com o sistema imunológico diminuído o paciente de ansiedade expõe-se a agressões exteriores muito mais facilmente, podendo ser alvo fácil de vários tipos de alergias e para evitar esse sofrimento os pacientes desenvolvem comportamentos evitantes face àquilo que julgam ser focos de ataques externos (fobias). A ansiedade torna-se assim um círculo vicioso. 

Hoje em dia, o emprego de terapias combinadas (terapias psicológicas, sejam elas dinâmicas ou de pendor analítico ou cognitivistas, acrescentada toda uma nova geração de remédios, mais eficazes e de efeito mais rápido) torna cada vez mais fácil controlar a ansiedade. Não é provável que ela desapareça por completo, mas podemos finalmente aprender a conviver com ela. 

O ataque de pânico aparece sem aviso prévio e deixa marcas psicológicas profundas. É que as sensações que provoca são de tal modo intensas que, após a primeira crise, a pessoa vive permanentemente com receio de ter que passar pelo mesmo. 

Taquicardias, suores frios, espasmos musculares, hiperventilação, tremores, náuseas, sensação de irrealidade, sensação de desmaio, de loucura e de morte iminente são os sintomas que acabam por levar as pessoas às urgências hospitalares. No entanto, ao final de dez minutos, os sintomas acabam desaparecendo. Uma situação estranha a juntar ao fato dos exames clínicos não revelarem nenhuma anomalia física. Mas os ataques de pânico são mesmo assim. Aparecem quando a pessoa menos espera, quando está descansada, e provocam sensações muitos fortes, duram cerca de dez minutos e não têm causas físicas, o que nem sempre é simples de aceitar. 

“Quando uma pessoa se dirige ao hospital, pensando que está morrendo de um ataque cardíaco e ouve os médicos dizerem-lhe que teve um ataque de pânico, fica revoltada e pensando que tem uma doença que não foi descoberta”, afirma o psiquiatra Fernando Rosas, acrescentando: “Algumas destas pessoas acabam por se tornar hipocondríacas, passando a vida em consultas e fazendo exames.” O que caracteriza a vida de uma pessoa que sofre de ataques de pânico é a limitação. 

Na realidade, será que a ansiedade existe mesmo fora do nosso mundo competitivo e acelerado? Segundo o especialista em psicoterapia comportamental José Pacheco, “a ansiedade é, seguramente, uma característica comum a todos os grupos sociais, culturais e econômicos e inclusive afeta outras espécies animais. Não é uma emoção apenas inerente ao homem. É normal sentir-se ansiedade. Só é patológico a partir de um certo limite. Tudo depende das circunstâncias, tipos de contextos e das situações que a geram”. Na opinião deste especialista, a ansiedade atinge proporções mais drásticas quando surgem situações potencialmente ameaçadoras, entendidas como capazes de colocar a vida em risco. Andar de avião pode provocar ansiedade, assim como as aranhas, por exemplo. A ansiedade traduz-se num estado de inquietação opressiva, de apreensão por algo que possa suceder, numa tensão e numa ânsia difusa.

A paz estará no campo? - Para José Pacheco “as angústias vividas pelos habitantes dos meios rurais são apenas diferentes das manifestadas por quem habita nas grandes cidades. Não existem problemas de trânsito, nem horas de pico, mas as pessoas angustiam-se perante a incerteza dos animais procriarem ou não, das suas culturas se desenvolverem, se chove na altura certa. Entre outros receios”. Para este especialista, os contextos são diferentes, mas os focos de ansiedade estão lá, enquanto protagonistas de inúmeros receios. As opiniões dividem-se, e alguns investigadores nesta matéria defendem a tese de que os habitantes das cidades são mais vulneráveis a estados de angústia. 

Na opinião do antropólogo, Darío Páez, as culturas individualistas – mais próximas das cidades – têm um ritmo de vida mais rápido e mais estressante, aceito por todos como normal. Em contrapartida, entre as pessoas das comunidades rurais existe um maior apoio social: interajuda, mas também um maior controle de todos. Significa que muitas das responsabilidades estão repartidas, sem que tal constitua uma obrigação.

No campo das perturbações afetivas (fobias, depressão, neuroses de ansiedade), os medicamentos utilizados pertencem ao grupo dos ansiolíticos e ao grupo dos antidepressivos. De acordo com Henry Gleitman, professor de Psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), “a eficácia dos antidepressivos prende-se com o fato de aumentarem a quantidade de norepinefrina e serotonina, que são substâncias químicas muito eficazes no combate à depressão”. 

No entanto, estas substâncias não são eficazes em todos os pacientes. “A medicação não funciona de igual modo para todo mundo. Por vezes, é necessário fazer várias experiências até se acertar”, afirma o psiquiatra Fernando Rosas. No entanto, esta situação pode vir a mudar. Estudos recentes indicam a possibilidade da existência de “marcadores biológicos” (como os testes sanguíneos) que podem ajudar na adequação da medicação antidepressiva a cada doente. 

O tratamento das perturbações mentais continua a suscitar opiniões nem sempre concordantes entre si. É que apesar das possibilidades terapêuticas que hoje existem, ainda são muitos aqueles que se negam a admitir a existência de um mecanismo biológico que pode ajudar a explicar a perturbação. Portanto, para estas pessoas, o recurso à terapia farmacológica nem sequer se coloca. Para a resolução do problema apontam o caminho da terapia psicológica como única solução. Perante isto, Fernando Rosas indigna-se. “É óbvio que o doente deve seguir uma terapia que o ajude a controlar e a lidar com o estresse, a desenvolver as suas aptidões sociais, a relaxar, a lidar com a frustração etc. Mas se as perturbações de ansiedade revelam desequilíbrios no campo dos neurotransmissores e se esses desequilíbrios podem desaparecer com o recurso à terapia, parece-me ilógico não o fazer. Tem é que se ter atenção aos possíveis excessos e avaliar bem as situações antes de prescrever qualquer medicamento. Não faz sentido prescrever um tranquilizante perante um episódio esporádico de ansiedade ou um antidepressivo quando uma pessoa se sente triste. Mas aqui, são os especialistas que tem de tomar a atitude correta”. 

Questionado sobre a sua posição, em relação ao possível abuso no recurso a este tipo de remédios, Fernando Rosas afirma: “É preciso ter em atenção que estes medicamentos visam combater situações muito específicas e não devem ser tomados sem aconselhamento médico. Se tomados por um período longo, os ansiolíticos podem provocar dependência. No entanto, quando uma pessoa está fazendo um tratamento com ansiolíticos ou antidepressivos deve saber que não pode parar de tomá-los de modo repentino. A retirada do medicamento tem que ser um processo gradual de modo a não provocar desequilíbrios”. 

Um dos argumentos mais utilizados por aqueles que se mantêm contra a utilização destes remédios refere-se ao fato destes medicamentos contribuírem para uma fraca consciencialização dos indivíduos face aos seus problemas. O que, por um lado, pode ser verdade. De acordo com João Paulo Ferreira, “se há situações que justificam plenamente o uso dos remédios, há outras em que o recurso a estes medicamentos apenas revelam que é mais fácil comprar um medicamento do que decidir apostar na terapia psicológica”. A questão é que muitas vezes as pessoas sentem-se mal por não conseguirem lidar com a frustração, com o estresse ou com a tristeza e como não sabem o que fazer, recorrem aos medicamentos. “Quando o problema é passageiro, os médicos devem aconselhar o paciente a procurar uma terapia... Ao invés, com os medicamentos, o mais natural é que este volte a aparecer. Portanto, tudo é uma questão de ponderar a gravidade e as necessidades de cada caso e decidir em conformidade com o diagnóstico”, afirma o psicólogo. Além destes medicamentos, existem outros aos quais os médicos recorrem com alguma frequência. São os medicamentos ‘placebo’ e não têm outro efeito que o de potenciar a auto-estima da pessoa. Alguns doentes sentem-se mais confiantes e menos ansiosos por saberem que têm consigo um medicamento capaz de parar as crises caso estas apareçam. E, por vezes, essa segurança é o suficiente para que a ansiedade diminua 


Autor: Adolfo de Castro
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Existe 1 comentário para esta publicação
domingo, 24/10/2010 por Aparecida Mendes
NERVOS...
O mau do nosso século, por mais que tenhamos uma base..., o q acontece?????????????????
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