A FARSA DO JULGAMENTO

sábado, 3 de abril de 2010

A FARSA DO JULGAMENTO JUSTO - A indústria cinematográfica de Hollywood imortalizou o caubói americano, trabalhadores rurais dedicados ao manejo do gado, na maioria deles analfabetos e arruaceiros alcoolizados. Neste cenário tornaram-se legendárias as figuras dos xerifes, encarregados da manutenção da lei e da ordem, imbuídos da tarefa de promoverem as prisões os julgamentos, quando necessário, além da aplicação da pena.

A FARSA DO JULGAMENTO

Várias são as cenas em que, enquanto o miserável malfeitor era julgado, o patíbulo já estava sendo construído, tanta a intenção na condenação. E sempre era um julgamento justo e imparcial. 

Não é outro o cenário produzido pela Justiça de São Paulo que levou a júri popular Alexandre Nardoni e Anna Jatobá, acusados pelo assassinato da menor Isabelle, recentemente realizado e que decidiu pela condenação do casal. Todos os lances cinematográficos hollywoodianos se fizeram presentes.

Estavam lá inúmeras câmeras de canais de televisão, centenas de repórteres fotográficos, sem número de profissionais da mídia impressa, público sedento de vingança, representantes da acusação e defesa e, como não podia deixar faltar, os inimigos públicos, os vilões da história, aqueles que reencarnaram o próprio demônio na Terra. Senhoras e senhores para o cadafalso o casal Nardoni!

Para que não pairem dúvidas, necessário deixar claro que tenho ciência que um crime bárbaro foi cometido e, ainda, não defendo a impunidade; todavia, não se pode esquecer que o encarceramento de qualquer pessoa exige a certeza inequívoca de sua culpabilidade porque é esta irretorquível certeza que traz credibilidade ao Tribunal do Júri e à Justiça como um todo; é o que produz a aceitação de suas decisões.


O que se viu nos cinco dias que durou o julgamento, no entanto, foge à regra da boa justiça e não dignifica o Tribunal: acusação alicerçada em suposições emanadas de laudos periciais discutíveis (qualquer conclusão em qualquer laudo é discutível), corpo de jurados fortemente influenciados pelo brilhante trabalho desenvolvido pela mídia, populares endeusando a promotoria e agredindo os profissionais da defesa, enfim uma pré-condenação digna dos filmes de caubói. Faltou somente a construção da forca.



Autor: ADEMAR AMORIM DA SILVA, JR. é advogado
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Existe 1 comentário para esta publicação
sábado, 3/4/2010 por Maria
A FARSA DO JULGAMENTO.
Ótima percepção, Ademar. Tive a sensação de estar diante a uma, "Impressionada Novela"... Parabéns pela matéria.
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