GENEBRA; EU ESTIVE AQUI

terça-feira, 29 de novembro de 2011

De um lado as casas, de fachadas claras, do outro o lago. Em cada ponto, perto da catedral de Saint-Pierre, no cimo de uma rua mais íngreme, lá se avista uma nesga do lago. Do largo e arejado lago Geneva ou Léman e do seu jato de água que chega a atingir 180m de altura a uma velocidade de 200 km/h. Para os que estão acostumados, essa paisagem pode ser lugar-comum. Mas nunca deixará de ser impressionantemente linda.

 GENEBRA; EU ESTIVE AQUI






Paris tem a Torre Eiffel, Londres o Big Ben, Veneza a Praça de São Marcos: Genebra tem o lago Geneva e o seu jato. Ele faz parte do bilhete de identidade da cidade. Além do lago, há outro símbolo, mais distante: o Mont Blanc, às vezes discreto, por estar envolto entre nuvens, de outras se impondo com a sua fachada nevada, de uma imponência quase ameaçadora.

Mas Genebra é também a cidade da sede européia das Nações Unidas, que pode ser percorrida em visitas guiadas. Dos parques maravilhosos e dos seus Jardins Botânicos, vastíssimos, cuidados de forma magnífica, com cercas de madeira e espaços para pequenas ovelhas (como se estivéssemos no campo!) e recantos artisticamente floridos, do (muito turístico) relógio feito de flores, junto à “Promenade du Lac”— não fosse esta uma cidade suíça. É a terra das duas margens do lago, dos bondes deslizando a toda a hora, dos relevos desenhados e dos relógios nas fachadas, das escadas, entre as casas antigas, até à catedral de Saint-Pierre, belíssima, de traçado românico e gótico e com uma fachada neoclássica. Esta é a urbe dos cafés em torno da catedral e de janelas nas ruas estreitas, onde, atrás das portadas de madeira, vemos o rendilhado delicado das cortinas cor de creme, entre lojas de antiguidades, com alambiques de cobre e velhos frasquinhos de farmácia.

 Genebra ostenta traços da presença de portugueses por lá. Além da Livraria Camões e do Café Pessoa: na catedral de Saint-Pierre, um túmulo ostenta dois escudos, sendo um deles de Portugal. É o da princesa Emília de Orange-Nassau (1569-1629), que em 1597 casou com o príncipe português D. Manuel, filho de D. António, prior do Crato (ali se encontra também sepultada a filha de Emília, Marie Belgia). Evocação muito mais recente da presença dos portugueses é assinalada numa lápide, no Café Landolt: ali se reuniam os oposicionistas exilados do regime salazarista.

Uma placa colocada em 1999, quando se comemoraram os 25 anos da Revolução dos Cravos, assinala o fato e inclui um agradecimento à cidade. Há várias décadas por aquele mesmo café passava outro exilado, este russo, Vladimir Ilitch Ulianov, que viria a ser conhecido sob o nome de Lénine. A mesa onde ele se sentava já não existe, embora alguns ainda garantam tê-la visto identificada.

Genebra é, ainda, a cidade de Voltaire, que ali viveu numa mansão chamada “Les Délices» “e onde hoje funciona o excelente museu e instituto com o nome do filósofo francês. É, igualmente, a cidade onde morou Calvino, que fez dela um bastião do Protestantismo — a urbe está cheia de evocações históricas sobre o movimento protestante, apresentando um Museu Internacional da Reforma, muito interessante, embora parcial na apresentação do tema. Genebra é metrópole de avenidas, de parques vastos, monumentos e ruas magníficas cujo sossego, habitado por árvores de copas altas e prédios oitocentistas.







A cidade-sede da ONU é cosmopolita nalgumas artérias,mas parece guardar um quieto espírito de bairro noutras. 

Aeroporto. O avião começa a descolar suavemente da pista. Atrás, a imagem assustadora do Mont Blanc. É mentira!Afinal, grande parte das suas encostas está nua de neve. Não chega a dar medo.


Autor: Celso Mathias
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Existe 1 comentário para esta publicação
terça-feira, 29/11/2011 por hc-maia
O Gigante do Turismo Adormecido!! Acordem-no!!
Com esse mestre,conhecedor do mundo,nos seus aspectos geográficos,etnográficos e históricos,e morador agora na sua Terra Natal,tem a administração municipal de Euclides um secretário pronto para assuntos da Cidade.Basta tocar a caneta,o retorno virá.
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