A eletricidade e a mente

sábado, 22 de maio de 2010

A estimulação magnética oferece uma nova esperança no tratamento das depressões mais graves. A nova arma dos psiquiatras no combate às depressões mais resistentes emite poderosos campos magnéticos que são cerca de 40.000 vezes superiores ao campo magnético natural da Terra. Se lhe parece excessivo, não se assuste. A técnica é não intrusiva, indolor e praticamente isenta de efeitos colaterais.

A eletricidade e a mente



Chama-se estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS na sigla em inglês) e recorre a impulsos magnéticos que induzem correntes elétricas no cérebro capazes de provocar alterações na atividade das células nervosas. O aparelho produz um campo magnético direcionado a determinadas zonas do córtex cerebral

A chave da terapia está num neuroestimulador, geralmente em forma de oito ou de um aro, que consiste numa ou mais espirais de cobre envoltas em moldes plásticos. O aparelho é segurado sobre a cabeça, produzindo um campo magnético direcionado a determinadas zonas do córtex cerebral. Os impulsos magnéticos penetram cerca de três centímetros numa pequena área do cérebro, gerando uma corrente elétrica no tecido neural que, após várias aplicações, é capaz de provocar alterações nas funções cerebrais. Estudos recentes sugerem, por exemplo, que é capaz de tornar mais eficazes as ligações das células nervosas e alterar a forma como as regiões do cérebro se relacionam entre si para regular o humor.

Os resultados são animadores. Vários estudos realizados nos últimos anos têm demonstrado que a aplicação da terapêutica sobre o córtex cerebral apresenta resultados significativos no tratamento de pacientes com depressão, a maior parte dos quais não tinha conseguido encontrar ajuda em qualquer outro tratamento. Num estudo realizado com 70 pacientes do estado de Washington, 30% dos doentes registraram respostas significativas ao tratamento e 20% conseguiram mesmo uma remissão total da doença. Noutra experiência, realizada na Austrália, as melhorias significativas foram experimentadas por 44% dos 50 pacientes e mais de um terço teve uma remissão completa.

As pesquisas mostram também que os resultados variam em função de vários parâmetros de estimulação, tais como a frequência e a intensidade da estimulação, bem como a configuração do neuroestimulador e a sua orientação.

A técnica já está sendo utilizada no tratamento da depressão em diversos países, incluindo na União Européia, Brasil, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Israel, apesar de nos Estados Unidos ainda aguardar a aprovação da Food and Drug Administration. Uma das principais vantagens em relação à terapia eletroconvulsiva (ECT), outra terapêutica usada no tratamento de depressões graves e resistentes à farmacologia, é o fato de não envolver a administração de anestesia nem de medicamentos anticonvulsivos. Além disso, é indolor e praticamente isenta de efeitos colaterais. Um dos escassos sintomas relatados por alguns pacientes tem sido uma ligeira dor de cabeça que passa após a sessão.

O recurso à estimulação magnética não é, contudo, isenta de inconvenientes. Muitos especialistas revelam-se cautelosos, até porque o número de pacientes tratados em todo o mundo é ainda relativamente baixo. Existe, por exemplo, ainda muito por descobrir sobre a sua interação com tratamentos que incluam farmacologia. Por outro lado, apesar de terem uma ação mais rápida, os benefícios do tratamento duram, no máximo, quatro meses, exigindo novas sessões. A necessidade de um equipamento sofisticado torna o tratamento também mais caro.

Para além da aplicação a problemas psiquiátricos como a depressão e a esquizofrenia, a rTMS foi já testada com bons resultados por médicos britânicos no tratamento de doentes com danos parciais na medula espinhal.


Autor: James Dollinger
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Existe 1 comentário para esta publicação
quinta-feira, 20/5/2010 por Aparecida Mendes
A ELETRICIDADE E A MENTE
rTMS, assusta mas é animador. Muito bom!
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