Portuguesa?Olha que não..

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pelo aspecto não tem grandes atributos, pelo nome poderia passar por conterrânea de Cabral. A qualquer viajante ou mesmo emigrante que entre num supermercado alemão dificilmente lhe escapará — se for à seção de vinhos — que várias garrafas têm escrito no rótulo as palavras “Blauer Portugieser”. Mesmo que “blauer” (azul) não seja imediatamente reconhecível, a “Portugieser” levará o passante a pensar que se trata de uma casta importada de Portugal.

Portuguesa?Olha que não..



Ora, não parece que tal seja (totalmente) correto; esta variedade tinta (daí chamar-se “blauer”) teria chegado à Alemanha via Áustria, onde já existiria desde o século XVIII. Foi o alemão Johann Philipp Bronner quem a começou a plantar e procedeu ao apuro clonal da casta. A fama cresceu rapidamente e a importância que passou a ter fez inclusive com que outras variedades tintas alemãs tenham praticamente desaparecido. É hoje a segunda casta tinta mais plantada, logo a seguir à Spätburgunder, com uma área de vinha que ronda os 5.000 hectares. As zonas mais importantes do seu cultivo são a região de Pfalz (Palatinado) e Rheinhessen. E então o que tem a Portuguesa de especial para entusiasmar os alemães? Gosta de terrenos pobres, desenvolve-se bem e dá muito fruto; amadurece cedo, podendo ser vindimada no início de Setembro; por comparação diga-se que o Riesling do Reno ou do Mosela são normalmente vindimados a partir da segunda quinzena de Outubro. Permite que se faça facilmente um rosé com a primeira prensagem de uvas, o vinho nunca é muito carregado na cor e costuma ter menos graduação que outros tintos. É sempre bebível novo, a partir da Primavera já está apetecível, fresco e refrescante. O «rosé» feito da Portuguesa é das bebidas de Verão mais apreciadas na Alemanha.

Nos países do centro da Europa também existe com outros nomes: na Áustria “Oportorebe”; na Hungria “Oportó”, na França “Autrichien” e na Eslováquia “Portugalské Modré”. Atendendo a estes nomes, parece haver algum fundo de verdade na tese (não aceite por todos) que teria sido levada do Porto para a Hungria e, daí, passado à Áustria. Seguramente a casta hoje está muito modificada em relação à que lhe esteve na origem e assim o mistério fica por resolver.

Foi por causa dela que um grupo de enólogos portugueses (ver www.saven.pt) criou a coleção Azul Portugal, em associação com produtores de várias regiões. São, normalmente, vinhos de muito boa relação qualidade/preço, como é o caso do Ribatejo 2006 Reserva um tinto cheio, robusto e com boa capacidade para ser bebido agora ou nos anos que aí vêm. Com cabrito no forno? Perfeito! O preço deverá rondar os €6,10 no mercado português.


Autor: Celso Mathias/Agpress
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