VINHOS;LOUCURA NOS PREÇOS

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O último mês, a minha caixa de email tem sido a todo tempo atualizada com informações sobre os preços dos vinhos de Bordeaux. O tema é a colheita de 2009, e é da compra en primeur que se trata. Os vinhos são pagos agora e serão entregues em janeiro de 2012. É bom saber-se que se trata de vinhos que ainda estão em estágio nas barricas de carvalho e que lá ficarão mais um ano antes de serem engarrafados no outono do ano que vem.

VINHOS;LOUCURA NOS PREÇOS


Por tradição, é na primavera a seguir à colheita que os Wine writers de todo o mundo aterram em Bordeaux para as provas das amostras de barrica. As notas são depois publicadas na imprensa especializada, e o vulgar consumidor, que não tem acesso a estas provas, decide a sua compra em função destas classificações. O sistema pode ser interessante para quem compra, porque assegura o preço, mesmo que, desde este momento até ao momento da entrega, o vinho possa ter aumentos de preços (por pressão da procura). Pode ser confuso estar decidindo uma compra de um vinho quando ainda lhe falta um ano de estágio em barrica, mas os “narizes de ouro” conseguem captar a essência da colheita mesmo com pouco tempo de vida: se o vinho é mais ou menos concentrado, se a fruta está equilibrada, se é muito ou pouco taninoso e, no fundo, se se trata de uma boa, muito boa ou excelente colheita. Às vezes enganam-se, mas, por norma, a qualidade final é aquela que agora foi detectada. O barulho todo começou quando alguns críticos com muita responsabilidade em publicações de grande aceitação começaram a dizer que 2009 seria a melhor colheita desde há décadas, possivelmente só comparável com a de 1945. Isto quer dizer que a procura vai ser enorme e que os preços vão ser complicados. Eles já tinham atingido um patamar muito elevado em 2005, tendo depois baixado, em alguns casos significativamente, nas colheitas seguintes.

O que acontece em Bordeaux pode, em definitivo, afastar os grandes vinhos dos consumidores.



Agora entramos no delírio. Dos nomes antigos e famosos, a marca atualmente mais cara é o chateau Lafite Rothschild (www.lafite.com), por via do apreço que os orientais (chineses e macaenses, entre outros) têm pelo vinho. Pois é, ao meu email chegou então o preço en primeur para esta marca: €890, garrafa. Outros tão antigos e famosos como Lafite são mais baratos: Latour, Mouton, Margaux e Haut-Brion (este em 2008 custava €165), a um preço “de saldo” de €790 a garrafa.



Ora bem, é bom de ver que, a estes preços, os vinhos passam a ser comprados e encarados como uma mercadoria de investimento, perdendo-se a essência para que foram feitos: dar prazer ao serem bebidos. É uma pena, porque estes são, de fato, os melhores vinhos do mundo, com provas dadas desde há séculos. Resta-nos, simples mortais, procurar outras marcas que sejam mais baratas e dêem também prazer a beber. Felizmente que, só em Bordeaux, há 8000 chateaus produtores de vinho...


Autor: Celso Mathias
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Existe 2 comentários para esta publicação
domingo, 25/9/2011 por Elizabeth Wonderlyne
Esnobismo?
Olha, tenho visto tanta gente comprando vinho pelo preço que concluo haver um certo esnobismo... Ou será que não?
sábado, 24/9/2011 por MAURÍCIO FERREIRA
Castas de Bordeaux - preços exorbitantes
Celso, excelente matéria. Só falta lembrar que nem sempre a progressão de preços acompanha, necessariamente, a mesma proporção do aumento de qualidade. É possível encontrar vinhos fantásticos, entre 150/200 euros, de qualidade proxima aos melhores.
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