No que toca à vinoterapia e aos propalados benefícios das uvas, alguém, algures no tempo, deve ter passado um bago pela face e notado, no dia seguinte, o bom aspeto da mesma. Semelhante fato - suponho - terá acontecido com tantas outras clinicas de beleza que deram depois origem a produtos, como a tão em voga baba de caracol. O passo seguinte deverá ser o estudo científico. E aí, sim, passa a validar-se o valor daquele produto ou tratamento para o mundo.
Não sabemos se foi isso que aconteceu com Mathilde Cathiard Thomas, a francesa
que, juntamente com o marido, Bertrand, deu início à aventura da vinoterapia ao
criar o primeiro SPA do vinho do mundo, as Termas de Caudalie, em Bordeaux. Na
verdade, a história que se conta é outra. Em 1993, durante as vindimas da
família de Mathilde, em Château Smith Haut Lafitte (uma das casas de vinho mais
conhecidas e prestigiadas de Bordeaux), um professor universitário partilhou
com eles a sua admiração. "Sabiam que estão jogando fora um
tesouro?", interpelou. Referia-se às cascas e grainhas das uvas que iam
parar ao lixo no processo da vindima. Joseph Vercauteren, professor na
Universidade de Farmácia de Bordeaux, revelou à família as capacidades
antioxidantes das uvas e, sobretudo, a riqueza dos polifenóis, que protegem o
organismo dos radicais livres, a principal causa do envelhecimento. Dentro dos
polifenóis, destaca-se o resveratrol, gerador de defesas imunitárias e que
contribui para uma maior longevidade.
Rapidamente se percebeu o potencial para a estética das propriedades do vinho, e assim nasceu, em 1995, a Caudalie. O termo caudalie é, de resto, do domínio da enologia: é a medida de tempo que o vinho persiste na boca após a degustação. Um segundo de persistência equivale a um caudalie. E quanto melhor o vinho, mais caudalies terá. De 1999, quando o primeiro SPA de vinoterapia foi inaugurado, até hoje, muitos produtos viram a luz do dia, e outras termas dedicadas ao vinho surgiram no mundo.
Como principais tratamentos, destacam-se as
esfoliações, os envolvimentos, as massagens relaxantes com pindas e as
imersões. As castas mais usadas são o Lambrusco, rico em minerais, que ajuda à
manutenção da pele; a Sauvignon, que tem propriedades tranquilizantes e é usado
habitualmente nas massagens; o Chianti, com as suas propriedades relaxantes; a
Cabernet e a Merlot, que ajudam a eliminar as células mortas de pele, e o
Rioja, usado em tratamentos e cosméticos. E, claro, não é preciso dizer: a
ideia é embriagar os sentidos, não a pessoa...