Há exatos 50 anos!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O meu alento, é que aqueles meninos inocentes que ocupavam aqueles corpos leves e juvenis, continuam vivos em alguma parte das nossas não mais tão leves consciências. O sofrimento, cada um na sua esfera, nos temperou como o fogo tempera o aço. Perdemos, pais, irmãos, esperanças, mulheres, dinheiro, músculos...Uma coisa com certeza não perdemos, pelo contrário, fortalecemos; a dignidade.

Há exatos 50 anos!

Para reflexão:

Matéria originalmente editada em 19 de setembro de 2011.

É interessante observar como a sede do poder se desloca pelas ruas dessa cidade outrora bucólica, hoje com ares de cidade de médio porte. Embora a ideia seja fixar o olhar nos últimos cinquenta anos de política e costumes em Euclides da Cunha, vamos um pouco mais distante encontrar ali pelos anos 20, o poder se dividindo entre a Praça Duque de Caxias onde morava o intendente Major Antonino e Praça da Igreja que abrigava o casarão do intendente Capitão Dantas, adversário do primeiro.











Depois o poder se deslocou para a Rua de Cima, hoje Rua Joaquim Santana Lima, onde viveu e morreu o próprio em uma elegante casa hoje ocupada pelos seus filhos mais jovens. Na mesma rua morava Luís Caldeirão que foi influente fazendeiro e Delegado de Polícia. Na primeira casa da afamada rua, já na divisa com a Praça Duque de Caxias, no resistente casarão hoje centenário onde vive a Professora Railda, morava seu destemido pai Joaquim Matias de Almeida. Fazendeiro, comerciante e por quase duas dezenas de anos; Delegado de Polícia.

E a sede do poder continuou sua migração dividindo-se entre os anos 40 e 60 com a Avenida Rui Barbosa e a Avenida Otávio Mangabeira (Rua dos Ricos), representadas respectivamente pelo astucioso José Camerino de Abreu, prefeito por duas legislaturas e Antonio Batista de Carvalho, o habilidoso Vaqueiro do Canché, três vezes prefeito.

A partir daí, o pode dispersou-se. Os donos do poder passaram a dividir novas áreas nobres em vários pontos da cidade. Só os compadres Athayde José da Silva e José Nunes Soares compartilharam a mesma região.

Pois, a foto feita em 1961, contabiliza exatos 50 anos. 50 anos onde muitas coisas mudaram profundamente. Outras; absolutamente nada. A ganância pelo poder, por exemplo, continua intacta. Já os códigos de ética e de honra são outros!

Mentiroso, ladrão, trapaceiro, desonesto e outros adjetivos aqui impróprios, só eram dirigidos a quem cabia tal qualificação. Hoje, na desenfreada busca pelo poder, há quem ocupe palanques e microfones de emissoras de rádio para disparar impropérios aos seus adversários sem qualquer indício de prova. Criaram-se tribunais de exceção comandados por “arautos” da honradez que sequer conhecem o significado de tal palavra.

Vereadores até meados dos anos 80 não recebiam qualquer remuneração, ajuda de custo, cota de telefone ou gasolina. Uma lei que isentava o parlamentar de pagar a conta residencial de energia elétrica chegou a ser furiosamente rejeitada por alguns vereadores, entre eles, Jaime Amorim da Silva, orgulho de amigos e familiares.

Com raras e “desonrosas” exceções, os ricos da época não aplicavam golpes em financeiras, não compravam cargas roubadas, não grilavam terras, não enriqueciam cultivando e/ou transportando maconha para o sul do país, adulterando combustíveis ou fazendo agiotagem pesada. Um ou outro emprestava um dinheirinho a taxas menores que as dos bancos. Isso há 50 anos...

Há 50 anos não havia marketing político, não havia planejamento, não havia projetos. Havia promessas e essas promessas via de regra eram cumpridas. O administrador se pautava obviamente no clientelismo, na intuição e no carisma pessoal para fazer política, para fazer o sucessor. Tanto, que nesses 50 anos, a oposição só arrebatou o poder das mãos da classe dominante, uma única vez. Foi em 2004 e deu no que deu. Comentários são desnecessários.

E agora? Agora é inquestionável a intervenção que a atual Administradora do município tem feito em todas as áreas do governo. Existem projetos, existem realizações; evidentemente, também existem falhas! Até porque, o nosso sistema político amarra  a atuação do Executivo ao “humor” do Legislativo. Contentá-lo, em todos os níveis de governo é uma tarefa árdua; heróica. Aos seu caprichos, têm caído presidentes, governadores, prefeitos e ministros. O mesmo Legislativo que quando quer, anistia uma ladra flagrada com a boca na botija, literalmente.

Mas vamos continuar sobrevoando a cidade a partir do ponto onde foi feita a foto com aqueles dois meninos de 12 anos. O Elias é filho da Maria Senhora e do Elias, então prospero negociante de sisal. A Maria Senhora, batalhadora, cozinheira e doceira maravilhosa, foi dona do melhor bar que a cidade já teve. “Bar Rejane”, nome que homenageava a filha caçula. Hoje está instalada ali, a Monte Santo Esportes. Nas outras três esquinas da avenida onde fizemos a foto, a Ruy Barbosa, estavam a loja de tecidos do Zeca Dantas, hoje Real Calçados, a casa da família Macedo, hoje uma Farmácia e a Venda de Neluzinho, hoje Aliança Calçados.

“Um homem só atravessa o mesmo rio uma vez. Na próxima travessia, nem o homem nem o rio serão mais os mesmos”. Por tanto, não somos mais os mesmos, nem nós, nem a avenida, nem os costumes até a arvore onde nos apoiamos não é mais a mesma. A original foi derrubada por um caminhão desgovernado.

O meu alento, é que aqueles meninos inocentes que ocupavam aqueles corpos leves e juvenis, continuam vivos em alguma parte das nossas não mais tão leves consciências. O sofrimento, cada um na sua esfera, nos temperou como o fogo tempera o aço. Perdemos, pais, irmãos, esperanças, mulheres, dinheiro...Uma coisa com certeza não perdemos, pelo contrário, fortalecemos; a dignidade.

Quanto à cidade, ao tempo em que fica mais bonita e mais rica, mais acirra o desejo de outros grupos alcançarem o poder. Nós, simples cidadãos, precisamos tomar cuidado, muito cuidado para não nos deixar levar pelo canto da sereia. A alternância no poder, além de necessária é símbolo de democracia e de renovação, desde que traga no seu bojo projetos para melhorar a vida do cidadão. Não se pode, sem projetos, mudar o que aí está. Se estiver bom, deve se pensar em mudar para melhor!

Em 19 de setembro de 2011, o município de Euclides da Cunha Comemora o 78º Aniversário de Emancipação Política. Parabéns liberdade!!!



Autor: Celso Mathias
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Existe 9 comentários para esta publicação
quinta-feira, 20/10/2011 por Aparecida Mendes
Há exato 50 anos...
Relendo esta matéria, digo com emoção: O tempo passou, mas a essencia é a mesma..., gostei muito!
sábado, 15/10/2011 por Jaime de Moraes
Nobre Propaganda
Caro Celso, Parabéns Belíssimo texto, infelizmente transparece a intenção “Nobre Propaganda” Parabéns Texto em partes, Sempre Pro Uma Euclides Melhor.
segunda-feira, 19/9/2011 por Glória Macedo
agradecimento
Agradeço e parabenizo-lhe pelas reportagens disponibilizadas,em especial, para nós euclidenses que estamos distantes fisicamente, fazendo-nos, de certa forma, presentes.
domingo, 18/9/2011 por Aparecida Mendes
Euclides da Cunha, há exato 50 anos
Parabéns a revista Vida Brasil, poucos têm a felicidade de ter um filho de sua terra, que nos traga tantas verdades e maravilhosas lembranças. Obrigada!!!
sábado, 17/9/2011 por Júnior Malta
boa leitura
confesso que me senti intimidado a ler quando vi o tamanho da matéria... mas a medida que fui lendo me prendi... ótimo texto!
sábado, 17/9/2011 por hc-maia
Matéria Real Saudosista , Apolítica.
Parabéns ao jornalista Celso!! O Cumbe tem sobras e músculos pra se vangloriar do retorno deste seu querido filho às suas hostes.Ninguém mais que o Celso,conhecedor do mundo, tem o perfil pra fotografar a saudade com tanta beleza.Sem essa de política
sexta-feira, 16/9/2011 por Celso
Nota da redação
NDR- O editor se reserva ao direito de só publicar críticas com email comprovado e conteúdo que não traga ofensas pessoais e/ou palavras de baixo calão.
quinta-feira, 15/9/2011 por Everson Matos
Parabéns
Excelente matéria,além de falar da verdade sobre a atual realidade do nosso município recordou de forma brilhante e nostálgica o passado do mesmo.
quinta-feira, 15/9/2011 por Carlos Amoreira
Duvida
Bonita matéria. Porém com clara intenção de elogiar os Nunes sem conhecer os indícios do que é feito nos bastidores.
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