

Repisaram a história da “falha segura”, como se não tivéssemos aprendido alguma coisa sobre isso no caso do metrô. Não fosse a intervenção do maquinista, e poderíamos estar contabilizando mortes. A “falha segura” não “segurou”. Ao contrário, acelerou.
Não vai aqui nenhuma apologia do homem sobre a máquina, mas a evidente constatação que quanto mais confiamos nossas vidas ao comando das tecnologias, maior é a responsabilidade dos que as produzem e dos que delas fazem uso.
O que não dá para aceitar é o discurso escapista da “fatalidade”. Afinal, a tecnologia é construída por humanos, aplicada por humanos, e cabe a eles, humanos, a constante vigilância sobre elas, de modo que garantam a “segurança” das vidas a ela confiadas. Nessa medida, falha tecnológica é, invariavelmente, uma falha humana.
Não é sem razão que muitas vezes montadoras se utilizam da prática do “recall”. Melhor substituir o que pode gerar problema, do que responder depois, cível e criminalmente, pelas consequências desse problema.
Não pode e não deve ser diferente com os trens metropolitanos e metrô, até mesmo pelo número de vidas que suas composições transportam em apenas uma viagem. Mais do que uma grande quantidade de ônibus, mais do que certa quantidade de aviões, e talvez mais do que um navio de passageiros.
Imagine, no caso do co
mando humano, o que pode acontecer a quem estiver dentro e fora de um ônibus se o motorista tiver, subitamente, um AVC? Nos trens, sob o comando humano, se o maquinista não acionar de tempo em tempo o dispositivo chamado “homem morto”, para que “em tese” o trem pare?
Nos navios existe toda uma tripulação de “náutica” e, nos aviões, mesmo com toda a tecnologia, um comandante acompanhado de um copiloto. O que teria acontecido com o trem do metrô se lá não estivesse presente o maquinista?
Esse acidente - ainda que uma exceção na história do metrô de São Paulo -, serve ao menos para “esfriar” o conceito de “falha segura”, e colocar a todos na vigilância em torno de medidas que façam da segurança o valor maior de produtores e operadores de trens de passageiros.
Passou da hora, também, de aceitar passivamente a cantilena que se faz acompanhar de falhas e acidentes, que “a circulação foi normalizada”. Ora, a circulação não pode ser interrompida por falhas, e menos ainda por acidentes. Compreensível para obras e reparos, mas não por falhas e acidentes.
O secretário dos Transportes Metropolitanos - como de costume - saiu às pressas para negar defeito no “sistema”. Acostumado a lidar com problemas iguais ou similares na CPTM fez uso do mesmo cachimbo, mas teve que encontrar, no Metrô, equipes voltadas para lidar especificamente com essas emergências, e que não tardaram a apontar problemas técnicos.
O presidente do Metrô veio a público confirmar o problema em equipamento, reconhecer o mérito do maquinista, e abrir sindicância com acompanhamento do sindicato.
Em tudo – como se nota – o tratamento do acidente no Metrô foi diferente de congêneres na CPTM. O do metrô mereceu até a presença rápida do Ministério Público e de famoso delegado de polícia, “novidades” desconhecidas nos da CPTM.
As diferenças de tratamento são nítidas, e ninguém me tira da cabeça que isso se deve exclusivamente às d
iferenças dos públicos servidos pelas duas operadoras.  No Metrô todo mundo quer aparecer na “fita”, enquanto na CPTM todo mundo quer sair de cena.
Definitivamente, o Estado está se lixando para os “suburbanos”.