A evolução da garrafa

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Ao admirar uma bela garrafa de vinho: sua cor, formato, capacidade, o material de que é feita, design, rótulo…, podemos não nos dar conta de que um padrão levou séculos para ser alcançado. Desde a Antiguidade, já se sabia que algumas safras eram melhores que as outras, mas apenas com o uso das garrafas de vidro, aliadas às rolhas de cortiça, é que se pode perceber a evolução dos vinhos quando conservados. Além disso, um registro especial; todos os tamanhos de garrafas que chegam até 30L.

A evolução da garrafa



Gregos e romanos armazenavam a bebida de seus deuses Dionísio e Baco (Caravagio) em vasilhames de couro, barro e cerâmica, mas, para não estragar, ela era misturada a conservantes como a resina de pinho, o que, provavelmente, a tornava intragável para os padrões de hoje. Tanto que, para ser tomado, o vinho era antes diluído em água e temperado com mel e especiarias.

Na Idade Média, o mais comum era conservar o líquido em grandes barris de madeira. Essa prática o mantinha por, no máximo, uns poucos anos, mas apenas até o recipiente ser aberto. A partir desse momento, era necessário consumi-lo rapidamente. Não era possível guardar vinho em casa por longo tempo como se faz atualmente. O comum era que fosse servido diretamente do barril, em cantinas e estalagens. No final do século XVII, a Revolução Industrial trouxe a garrafa de vidro resistente, fabricada em série. Foi um marco na história do vinho. É dessa época o surgimento do champagne, dos grandes Châteaux de Bordeaux e do Porto, um dos primeiros vinhos a ser comercializado em novos recipientes de vidro.

Quanto à sua capacidade, as primeiras garrafas podiam variar muito, chegando a mais de 20 litros. A quantidade de 750 ml, que hoje é um padrão mundialmente aceito, tem sua origem explicada em diversas teorias. A primeira seria em função do tamanho da barrica bordalesa, que, com seus 225 litros, encheria exatamente 300 garrafas. A segunda supõe que 750 ml seria o consumo normal de um casal numa refeição, ou de uma pessoa ao longo de um dia. Uma terceira hipótese é que, como as primeiras garrafas eram sopradas, estes 3/4 de litro equivaleriam à capacidade do pulmão do soprador. Esse volume, contudo, demorou a ser adotado como modelo.

TAMANHO & COR

Na Inglaterra, por exemplo, até 1860 vigorou uma lei que proibia a venda de vinho engarrafado. O objetivo era proteger os consumidores de vendedores que poderiam tomar vantagem do formato e capacidade variável dos vasilhames artesanais. O vinho podia ser comprado e depois engarrafado. Muitos compradores levavam suas próprias e já conhecidas garrafas aos locais de compra da bebida.

Quem está acostumado a ver grafas comuns cujo volume é de 750ml..não imagina que existem mais de 20 tamanhos de garrafas para vinho e champanhe, variando em volumes, da menor (apenas um quinto de um litro) para gigantescas (30 litros). A lista abaixo segue da de menor para a de maior porte (algumas exclusivas de certos países):

Piccolo: Em italiano, "pequeno", esta irmã "miúda" da família  das garrafas de vinho contém apenas um quarto de uma garrafa padrão, ou uma taça bem servida. Também conhecida como "pony".




Chopine:
Comportando um terço de uma garrafa padrão, essa medida é deriva dos sapatos plataforma muito populares na França e na Itália durante o Renascimento. O que exatamente isso tem a ver com pequenas quantidades de vinho não se sabe.







Demi:
Também chamada de "split", é metade de uma garrafa de vinho padrão.

Tenth: Um décimo de galão dos EUA.

Jennie: Contém 50cl ou meio litro de vinho doce, como Sauternes ou Jerez.

Clavelin: Utilizado exclusivamente na França, para o vin jaune, com um volume ímpar de 0,62 litros,  é resultado da quantidade de vinho evaporou do barril, após seis anos do envelhecimento.

Standard ou Padrão: A garrafa de vinho comum de 0,75 litros.

Fifth: Precisamente 0,007 litros a mais do que uma garrafa padrão. Um quinto de galão dos EUA.

Magnum: A mais conhecida das garrafas maiores, uma magnum equivale a duas garrafas, ou seja, 1,5 litros de vinho.

Marie-Jeanne: Raramente vista e quase exclusiva de Bordeaux, esta "senhora delicada" oferece 2,25 litros, ou três garrafas padrão.

Jeroboam: Também conhecida como double-magnum, esta garrafa de 3 litros é batizada com o nome da figura bíblica que supervisionou os escravos do rei Salomão. Um tributo a um "homem de grande valor", como essas caras garrafas.


Rehoboam: O equivalente a seis garrafas padrão de vinho, a Rehoboam, é batizada como o nome do filho e sucessor do rei Salomão, que brutalizou seus escravos.

Imperial: Equivalente a 6 litros de vinho, a Imperial se destaca pelos impressionantes 2 metros de altura e contém vinho de Bordeaux.

Matusalém: Batizada com o nome do homem mais velho da história, segundo a Bíblia ( o avô de Noé). A Matusalém também tem 6 litros, mas é geralmente reservada para os vinhos espumantes.

Salmanazar ou Mordecai: As garrafas de 9 litros contém uma quantidade gritante de vinho, o que realmente reduz a embalagem.

Balthazar: Este "homem sábio" traz o maior presente de todos: 12 litros ou 16 garrafas de vinho.

Nabucodonosor: O rei de Babilônia, enviou os judeus para o exílio e em troca recebeu o título de "aquele que detém 15 litros de vinho."

Melchior: Este outro homem sábio supera a Balthazar por oito garrafas.

Salomon: Tudo bem, estamos cansados de inventar histórias por trás dos nomes das garrafas, e como não há até o momento nenhuma explicação real, basta dizer que os 20 litros de vinho esse "bad boy" tem, amansam qualquer conflito potencial entre um rei e sua divindade.

Sovereign ou Soberano: Neste ponto, as garrafas se tornam "showpieces" em qualquer loja ou adega de restaurante, com seus quase (e às vezes mais) 3 metros de altura e capacidade para 25 litros.

Primat: Este gigante pesa quase 150 quilos. Arranje alguns amigos fortes para ajudá-lo a beber direto da garrafa.

Melchizedek: Até que enfim, chegamos a maior das garrafas. Batizada como o nome do "Rei da Paz" no Velho Testamento, este "monstro" em forma de garrafa abriga o equivalente a 40 garrafas padrão ou 30 litros.

Quanto à cor, o vidro utilizado normalmente é escuro, para proteger o líquido da luz, prejudicial a seu bom envelhecimento. Algumas regiões seguem convenções, como na Alemanha, onde as garrafas marrons do Reno se diferenciam das verdes do Mosela. Muitos vinhos de bela cor, como a maioria dos rosados, preferem garrafas translúcidas, que valorizam seu aspecto visual. O champagne Cristal, da casa Roederer, teria sido criado em 1877 a pedido do Tsar Alexandre II, que encomendou a bebida em garrafas de cristal puro para que sua linda cor não fosse escondida pelo vidro opaco.

Quanto ao formato, as primeiras garrafas eram abaloadas, com gargalo longo e cônico e com tamanhos maiores, de vários litros. Com o tempo, a forma passou à cilíndrica, de capacidade menor. Esse formato facilitaria o empilhamento, deitadas, ajudando no transporte e envelhecimento.

OS TIPOS

Hoje, pela forma da embalagem pode-se dizer muito sobre o conteúdo. As mais tradicionais são as garrafas dos tipos: bordeaux (cilíndrica e alta), borgonha (mais baixa e com curvas suaves), alsaciana ou alemã (magra e alongada), champagne (de curvas suaves, de vidro mais grosso e resistente) e de Porto (cilíndricas e baixas). Portanto, pelo formato da garrafa já se pode dizer a região de origem do vinho e, conseqüentemente, algo sobre seu aroma e sabor.

No caso dos produtos do Novo Mundo, o que prevalece é a utilização dos formatos análogos aos Europeus. Por exemplo, em vinhos do Chile, Austrália e Brasil, normalmente, ao se engarrafar um Cabernet Sauvignon ou um Merlot, uvas originárias de Bordeaux, usa-se a garrafa dessa região. Caso seja um Chardonnay ou um Pinot Noir, castas vindas da Borgonha, a preferência será por garrafas iguais as usadas nessa região. Na contra-mão desse fenômeno, alguns viticultores de regiões clássicas como Bordeaux tentam expressar a modernidade de seus produtos em embalagens que desafiam às tradições locais.

Uma dúvida comum: garrafas de fundo com reentrância pronunciada indicam vinhos melhores? Não necessariamente. Essa característica indica apenas maior resistência, além de ajudar no design, proporcionando frascos mais altos e imponentes por causa da aparência de grande tamanho. É comum que um produtor engarrafe seus melhores vinhos, de guarda, em garrafas desse tipo, enquanto venda seus produtos de consumo mais imediato em vasilhames de fundo chato.

 


Autor: Byagn
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