NOVOS E VELHOS RICOS

sábado, 3 de novembro de 2012

Dia destes deparei com Raimundo Tomás caminhando a passos lentos por uma das calçadas da cidade. Portador de grande limitação visual, o digno cidadão de 87 anos desvencilhava-se habilmente de vários empecilhos colocados na calçada por comerciantes inescrupulosos. Ao ver o velho Raimundo lúcido e saudável, lembrei-me de outros que como ele contribuíram para fazer de Euclides da Cunha o que ela é hoje. Mas lembrei-me também de incontáveis novos ricos donos de fortunas inexplicáveis.

NOVOS E VELHOS RICOS

VAMOS SEPARAR O JOIO DO TRIGO


Certamente quem ler esse texto vai me chamar de saudosista; sou saudosista! Como não ter saudades de um tempo em que, principalmente nas pequenas cidades de interior, caráter valia mais do que dinheiro. Ser era mais importante do que ter! E posso discorrer com a maior tranquilidade sobre esse tema porque conheço bem esses caminhos, conheço muito bem todos os lados dessa moeda, até mesmo quando ela cai de pé.

Na segunda metade do século passado Euclides da Cunha começou a ter traçadas as linhas que formam a progressista cidade de hoje. Naquela época, algumas fortunas começaram a se formar e todos sabiam como começaram, por onde passaram e aonde chegaram.

As fortunas estavam originalmente em mãos de fazendeiros do porte de Fulgêncio Abreu, Joaquim Matias, João Emídio, Quinquin Paranhos entre outros. Posteriormente uma leva de comerciante começou a fazer fortuna: Ioiô de Hermógenes com seu armazém de secos e molhados, Otacílio Soares comprando peles, castanha, feijão e milho, Jaime Amorim com o pioneirismo na venda de móveis e eletrodomésticos a prestação- O Crediário, Raimundo Tomás com sua padaria e agropecuária. Todo mundo conhece a origem dessas fortunas, todo mundo respeita esses homens. Só Raimundo Tomás ainda está entre nós; vez por outra tropeçando em produtos expostos em via pública por comerciantes inescrupulosos.

Uma categoria que vale ressaltar é a de mecânico de automóveis. Eles não eram apenas mecânicos. Eram artesãos, eram visionários, eram os homens que conheciam o funcionamento, as entranhas de um bem que poucos possuíam e muito menos conheciam. O mecânico tinha de descobrir com o funcionava a máquina, tinha de adaptar, de forjar peças, de reconstruir formas, de fazer verdadeiros milagres. Tudo isso sem computador, sem meio rápido para o transporte de peças a ser substituídas, sem literatura, sem nada! Contavam apenas com a sua inteligência, a força física e a capacidade de adaptar.

Entre aqueles heróis do passado, Mestre Quito e seu irmão Niel, ambos excelentes profissionais, porém com temperamentos opostos.

Um pouco mais novo, o Maninho que continua na ativa, hoje auxiliado pelo seu filho Marconi toca uma oficina à margem do “Açude Velho”.

Motorista de caminhão, por recomendação médica, Nelson Bastos deixou a vida de caminhoneiro e se estabeleceu como mecânico no local onde foi construído o Hotel Bastos de propriedade de seu filho Ruben.

Nelson após se aposentar como mecânico resolveu trabalhar como vendedor em uma loja de peças de um dos seus filhos. Conta-se que foi gentilmente convidado pelos filhos a deixar o emprego porque em vez de vender, costumava consertar gratuitamente peças que em tese não tinham mais conserto.

Todos esses cidadãos tinham em comum, além da profissão, a retidão de caráter, a vontade de ajudar a resolver o problema de quem os procurava e principalmente a honestidade. Todos são longevos e desprovidos de bens materiais. O único a ganhar algum dinheiro foi o Mestre Quito por ter durante muitos anos exercido com sucesso outras atividades. Hoje aos 77 anos retomou a profissão em uma pequena oficina onde continua a fazer de tudo com muito boa vontade e jovialidade.

Atualmente a cidade tem uma frota de carros importados de propriedade de comerciantes que não têm mais a mesma postura daqueles pioneiros. É compreensível; os tempos são outros. Existem fortunas e posturas (muitas) que certamente não resistiriam a uma investigação do Fisco e quiçá das Polícias. Isso é um mal do país, do mundo? É! Mas aqui existem exageros, até porque a antiga “Lei de Gerson” ainda é aplaudida com veemência. Há quem se vanglorie de ser desonesto, de adulterar combustível, de comprar mercadoria roubada e até de traficar crianças.

Os donos de oficinas mecânicas estão longe daqueles românticos que refaziam com um martelinho a “chaparia” com dois milímetros de espessura, que deixavam contas penduradas, algumas até hoje. O dono da Copel e da Amavel, por exemplo, não são mais “donos de oficina”; são poderosos empresários. Como tal, merecem também uma visita do Fisco, do PROCON, e por que não; da Polícia!

Para que não deturpem, esse texto não pretende nivelar por baixo as categorias citadas; ao contrário, pretende chamar a atenção dos bons, dos sérios, dos honestos para que eles contribuam para separar o joio do trigo.

 

 

 



Autor: Celso Mathias
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Existe 13 comentários para esta publicação
quarta-feira, 9/10/2013 por Van Almeida
Novos e velhos ricos.
Encantada e emocionada com a sua retórica para descrever e escrever o texto em questao e a elegante e sutil advertencia sem agredir a quem quer que seja para problemas muito visiveis no país do qual alguns fazem "vista grossa".
sábado, 24/11/2012 por Maria Margareth Castro Miranda Menezes
Novos e velhos ricos
Bela materia! Valoriza as conquistas atraves do trabalho, etica e carater. Lembrando pessoas que devem servir como referencia e que farao parte da historia Euclidense. Parabens!
segunda-feira, 12/11/2012 por Joao
Corajoso!!
Esta matéria é muito boa, mas é curta, tinha q ser mais afundo sobre estes empresario que ladroes que se enriquece pelo fato de não termos muita escolhas, e assim sonegam impostos sim, não emitem notas fiscais. E quando pedimos, ficamos mal vistos.
quinta-feira, 8/11/2012 por Aroldo
Novos e velhps ricos
Qual o objetivo desta matéria? Denunciar os novos ricos? Dá a entender que a riqueza destes é ilicita. As empresas citadas são desonestas?
quarta-feira, 7/11/2012 por Sebastião
pegando leve.
Não sei bem qual o objetivo da sua matéria. Se for denunciar os donod e oficina, você está pegando leve com esses caras. O caso deles, mas do que fisco, é de polícia mesmo. isso sem falra no descaso e na falta de respeito com os incautos que colocam
segunda-feira, 5/11/2012 por Aparecida Mendes
Novos e Velhos Ricos
Sensacional a mátéria! lembrei muito o que aprendi com o meu saudoso pai: Caráter vale mais do que dinheiro. Celso, parabénssssssssss
segunda-feira, 5/11/2012 por BRÁULIO LIMA MOTA
Novos e velhos ricos
Olá meu amigo Celso, Onde estão também os artistas da cidade? Cadê o Zé Pôpô da snafona e do violão? E os trovadores e muitos outros. Também trazem recordações e um pouco de nostalgia. Abraços!
segunda-feira, 5/11/2012 por Adelson Matias
Sr. Hc-Maia
Obrigado por se lembrar do saudoso Sr. Joaquim Matias! Tenho acompanhado todos seus comentários. Pergunto o Sr é de qual família de Euclides? Um abraço.
segunda-feira, 5/11/2012 por STELA MADUREIRA
CONTINUANDO O JOIO DO TRIGO
CELSO NÃO PODERIA DEIXAR DE FALAR DO MEU AMIGO QUITO...HOMEM INTEGRO, QUERO LEMBRAR OUTRO AMIGO INESQUECIVEL JUVINIANO GOMES QUE TRABALHOU MUITO P N CIDADE.UM ABRAÇO, VC É SABIO....
segunda-feira, 5/11/2012 por STELA AGRES MADUREIRA
JOIO DO TRIGO
parabéns!!!! CELSO MATHIAS, pela materia maravilhosa,fiquei também saudosista, quando vc relata fotos de nossa cidade, e homens de bem e que palavra valia mais que dinheiro, alguns desse tivo o previlegio de conhecer, como sr.Raimundo thomas.
domingo, 4/11/2012 por Leuza Bomfim
separar o joio do trigo
parabéns Celso pela materia, pela corageme, por lembrar dehomens admiráveis como mestre Quito. Indubitavelmente, voce é um grande escritor.
domingo, 4/11/2012 por Valter
Oficinas-ratoeiras
Meu caro, nessa área, o que ocorre aqui é assustador. Uma fiscalização superficial iria mostrar que esses caras fazem coisa que até Deus duvida. Não exatamente as oficinas citadas, mas muitas cobram peças que não trocaram e ainda emitem nota de venda
domingo, 4/11/2012 por hc-maia
"O Ruivo Despertando Side Joaquim Barbosa".
Linda matéria!! Mais lindo ainda vê,em foto,o mestre Joaquim Mathias,delegado calça curta.Vi,quando criança,num sábado de feira,apear,(hoje algemar),e prender um tabaréu que roubava choacalhos numa daquelas bancas ao ar livre.Saudades de homens assim
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