A CIÊNCIA DO AMOR

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Estará o segredo para encontrar a alma gêmea na compatibilidade genética? Dois serviços de encontros na Internet garantem que sim. Esqueça o tradicional Cupido com o seu arco e flechas impregnadas de amor. O novo aliado para encontrar a alma gêmea pode bem ser algo muito mais mundano: a saliva. Ou melhor, o DNA. Pelo menos a acreditar no «ScientificMatch» (www.scientificmatch.com) e no «Gene Partner» (www.genepartner.com), dois serviços de encontros na Internet.

A CIÊNCIA DO AMOR


Os serviços prometem levá-lo (a) à tão procurada alma gêmea através de um simples teste de compatibilidade genética. O «ScientificMatch» foi o pioneiro destes serviços, lançado por Eric Holzle, um engenheiro mecânico norte-americano. Pelo preço promocional de 995 dólares (740 euros), que garante uma inscrição vitalícia no site, os utilizadores registrados recebem em casa um «kit» de DNA, com o qual devem recolher uma amostra de saliva e devolvê-la ao laboratório da empresa americana.

Os resultados da análise são depois inseridos numa base de dados, comparados com os de outros membros e, em poucos segundos, o sistema indica aqueles que são mais compatíveis.

O Cupido genético garantem os seus promotores, tem um fundamento científico. O método baseia-se numa curiosa experiência levada a cabo em 1995 pelo biólogo suíço Claus Wedekind, da Universidade de Berna. Wedekind demonstrou que um conjunto de genes ligados a uma parte do sistema imunológico conhecida como complexo major de histocompatibiliade (CMH) desempenham um papel fundamental na atração sexual. A experiência confirmou a velha crença de que os opostos se atraem. Quanto mais diferente for o CMH dos membros de um casal, maior será a sua «química».

O ponto de partida do estudo de Wedekind foi um trabalho realizado duas décadas antes pelo escritor e investigador médico Lewis Thomas, que sugeriu que diferentes genes de CMH estariam associados a diferentes odores. Para comprovar essa hipótese e confirmar a influência do CMH na atração, o biólogo suíço e a sua equipa recolheram amostras de DNA de 49 estudantes do sexo feminino e outros tantos do sexo masculino. Estes últimos foram instruídos a usar uma «t-shirt» de algodão em duas noites consecutivas e a guardá-las num saco de plástico. Foram ainda aconselhados a usar cosméticos livres de perfume, evitar salas com cheiros intensos e atividades produtoras de odores, como fumar ou fazer sexo. As voluntárias tiveram, por sua vez, que usar um «spray» nasal durante duas semanas para evitar infecções nas suas membranas nasais e receberam um exemplar do romance O Perfume, de Patrick Süskind, para que se tornassem mais conscientes dos odores.

O pesquisador pediu depois às jovens mulheres que cheirassem as «t-shirts» usadas e anotassem o grau de atração de cada uma delas. O estudo permitiu-lhe confirmar que o CMH afeta a transpiração nos homens e que as mulheres preferiam as roupas vestidas por homens cujo CMH era o mais diferente do seu. Esta preferência será ao que tudo indica influenciada pela Natureza: juntar parceiros com diferentes genes do sistema imunológico fortalece as defesas da geração seguinte, criando descendentes mais saudáveis.

Holzle, o fundador do «ScientificMatch», garante que a compatibilidade prometida pelo seu serviço é puramente física. «É uma atração química, sexual», sustenta. Quando afirma que duas pessoas têm «química» o que quer dizer é que os genes dos seus sistemas imunitários são perfeitamente compatíveis. E por compatíveis entenda-se completamente diferentes. É apenas uma peça no complexo «puzzle» do amor, mas as vantagens do método são mais vastas, admite o empreendedor, que se socorre de outros estudos recentes. Um trabalho realizado há dois anos na Universidade do Novo México revelou que os casais com este tipo de compatibilidade imunológica têm uma vida sexual mais satisfatória. Segundo o mesmo estudo, as mulheres nesta situação gozam de melhores orgasmos e têm uma menor probabilidade de trair o seu parceiro. As hipóteses de adultério por parte da mulher são quase proporcionais ao número de genes do CMH que partilham com o seu parceiro. Outros estudos sugerem que a compatibilidade genética favorece também a fertilidade, para além da saúde dos descendentes.

«Todos estes benefícios estão comprovados por estudos independentes”. No nosso site, citamos mais de 40 estudos. Somos um dos únicos sites de relacionamento baseados em algumas provas científicas e o nosso é baseado em muitas», arremata Holzle negando-se, contudo, a revelar o número de membros do seu serviço.

A ciência por detrás do «ScientificMatch» foi a mesma que inspirou o «GenePartner». Criado em Julho na Suíça sob o lema «O amor não é uma coincidência», o site oferece o mesmo serviço do seu pioneiro americano a um preço muito mais baixo (cerca de 150 euros), mas funciona de um modo ligeiramente diferente: ao invés de escolher os membros compatíveis, o sistema permite ao utilizador fazer a comparação do seu perfil genético com o de outros corações solitários. O site pode também ser usado por casais que pretendam comprovar a sua compatibilidade. Genética, entenda-se, porque o amor é uma equação demasiado complexa para ser resolvida com um bocado de saliva.


Autor: Celso Mathias
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