Os vinhos raros e as velharias

sábado, 14 de janeiro de 2017

Para o apreciador de vinhos, tratar da sua própria adega parece a coisa mais fácil deste mundo. No fundo, basta comprar garrafas, armazená-las melhor ou pior, consoante as condições existentes, e bebê-las sempre que a ocasião for propícia. Dito assim, de fato, parece fácil. Mas provavelmente não existe um único apreciador que se possa gabar de possuir uma adega perfeitamente gerida, com um conjunto equilibrado e diversificado de vinhos, e em quantidade adequada à frequência do seu consumo.

Os vinhos raros e as velharias


Nas adegas dos apaixonados pelo vinho existe, quase sempre, um problema crônico: o numero excessivo de garrafas, muito além daquilo que é possível se beber, muitas vezes, no tempo de vida de seu proprietário.

Quando confronto um amigo com esta situação, ouço invariavelmente dois argumentos: "por um lado, o vinho valoriza com a idade, e a garrafa que comprei por R$100 vale hoje R$500; depois, se não for eu a bebê-lo, pelo menos deixo aos meus filhos uma excelente adega". Que deliciosa ingenuidade!

Em primeiro lugar, no que diz respeito a "vinhos - investimentos", em termos de vinhos portugueses, por exemplo, só existe o Porto Vintage. Salvo raras exceções, todos os outros desvalorizam, acabando, com o tempo, por perder todo o valor de mercado. É que um vinho só tem valor quando para ele existe comprador... Não tem conta o numero de enófilos que pedem avaliação de suas coleções cheias de vinhos dos anos 70 e 80, que estiverem à venda na época, construindo com eles a sua própria adega. E com exceção de algumas preciosidades, vinhos de grande guarda, que possamos legar-lhes, estaremos, na esmagadora maioria dos casos, não a deixar-lhes um patrimônio, mas sim a transferir para eles o nosso próprio problema.

Porque a verdade é que uma boa parte das adegas particulares está entulhada de vinhos "fora de prazo", ou seja, vinhos que embora nos continuem a dar prazer já se encontram muito além do momento ideal de consumo. E a situação agrava-se dia após dia, porque continuamos a beber os vinhos jovens que acabamos de comprar e os outros vão ficar para trás, comprometendo-lhes definitivamente a saúde.

O que fazer para sair desse círculo vicioso? Deixo uma sugestão:


1° - Faça o inventário de todos os vinhos existentes na sua adega.

2° - convide os amigos para jantar e prove todos os vinhos que tenham mais de cinco anos e dos quais existem três ou mais garrafas. Isso vai permitir avaliar sua evolução.

3° - No inventário, selecione todos os vinhos, mesmo os mais jovens, que pelo seu tipo e características não ofereçam garantias de longa vida em garrafas.

4° - Guarde unicamente os vinhos que o mereçam e ofereça os outros. Libertará assim a sua adega de um conjunto de vinhos que de outro modo se perderiam. E, é claro, os amigos agradecem!

 


Autor: Celso Mathias
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