A tática do “vai passar”

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Também a esquerda parece atônita com a Lista de Fachin – e cala-se, esperando a tempestade passar. Não vai dar certo, e há uma alternativa...Ontem, sob o choque que se seguiu à divulgação da Lista de Fachin, Brasília reduziu-se a um deserto – agora, não apenas de ideias, mas também de presença física. Câmara e Senado ficaram às moscas. Projetos cruciais da agenda de retrocessos – como o que obriga os Estados a promoverem privatizações e ajustes fiscais – não foram adiante.

A tática do “vai passar”

Mas a paralisia atinge também a esquerda institucional. As principais lideranças do PT e PCdoB calaram-se. Os sites destes partidos, também. Nada falam do envolvimento, em denúncias graves de recebimento de propina, de todos os ministros importantes do governo Temer e de todos os caciques do PSDB. Estão silenciosos por um motivo óbvio: as delações também os atingem. Por isso, esperam a tempestade passar. Segundo especulações da mídia, aliás, Lula, Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer têm se articulado, pessoalmente ou per meio de intermediários, para tentar algo que “salve a classe política”.

Mas esta tática – a do avestruz, ou do “vai passar” – é extremamente arriscada. Na política, não há vazios, muito menos em situações de comoção nacional, como agora. Se a esquerda se cala, o espaço será ocupado por dois atores, ambos do campo conservador. Primeiro, a mídia. Nas TVs e nos jornais de hoje, já aparece uma nítida tentativa de distorcer os fatos e concentrar todo o foco das denúncias no PT, em Lula e em Dilma. O segundo ator é o Judiciário – a Lava Jato e o procurador Janot, cujo viés conservador é evidente.

Há uma alternativa concreta à tática do “vai passar”: é defender uma vasta Reforma Política, com base nas próprias revelações da Lista de Fachin. Ela demonstra que a corrupção está encravada na política institucional brasileira. Não basta, portanto, punir bodes expiatórios. É preciso mudar o sistema.

O tema é complexo, requer elaboração, mas pode começar com propostas simples. Uma primeira. Afirmar, claramente, que a tramitação contrarreforma da Previdência tem de ser interrompida. Sustentar que um governo e um Congresso suspeitos não têm legitimidade para eliminar direitos do povo.


Uma segunda proposta: defender que as principais medidas já adotadas por este governo e Congresso ilegítimos sejam submetidas a referendo popular. Entrega do Pré-Sal. Terceirizações. Bloqueio à demarcação das terras indígenas. Congelamento dos gastos sociais por vinte anos. Tudo isso foi adotado às pressas, sem debate, por deputados e senadores suspeitos. Tudo isso tem de ser revisto pela sociedade.

A tempestade aberta na terça-feira não vai serenar por si mesma. O Valor de hoje informa: além de pedir inquérito contra 108 políticos, o ministro Edson Fachin determinou a abertura de 135 pedidos de investigação, em 21 Estados. A vida brasileira estará fortemente marcada por esse tema, nos próximos anos. A tentativa de acordos por cima só abrirá espaço para o descrédito da política e para os que negam qualquer forma de democracia. A hora é da Reforma Política.


Autor: A. Martins
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