As noites no Bar do Alemão

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Outro dia fazendo uma pesquisa no Google, encontrei imagens do Bar do Alemão, “botequim” ao lado do Estádio do Palmeiras, que quando frequentei, no início dos anos 70, já contava com mais de uma dezena de anos e várias dezenas de fiéis frequentadores. Recém-chegado da Bahia, eu ensaiava os primeiros passos como executivo de uma multinacional do ramo de oxigênio e, por morar aí perto, na Vila Romana, fiz do lugar o meu ponto de todas as noites para ouvir boa música, beber chope bem tirado, comer petiscos gostosos, rir e conversar. Conversar sabe com quem? Gonzaguinha, Tom Zé, Dominguinhos, Paulo Cesar Pinheiro, Arrigo Barnabé, Roberto Riberti, Paulo Vanzolini, Eduardo Gudim, Carlinhos Vergueiro e sabe mais quem?

As noites no Bar do Alemão

E passeando pela internet, fui reencontrando grandes personagens que frequentaram o bendito lugar e outros que ainda hoje frequentam, como o cantor e compositor Eduardo Gudim, atualmente, o dono da casa, que à época, adentrava o lugar, carregando seu charme e sucessos dos festivais, ao lado do parceiraço, Paulo César Pinheiro, que além de bom compositor, era o marido da Clara Nunes.

 


Por lá passeava também, meu amigo de adolesncia, Vicente Barreto, um serrinhense que frequentou Euclides da Cunha nos anos 60, acompanhado do pai, Moreira, um corretor de valores que namorava uma senhora no povoado de Pinhões. Vicente, já famoso naquela época, é hoje um compositor consagrado em parcerias, entre outras, com Vinicius de Moraes e Alceu Valença, com quem divide o sucesso de Morena Tropicâna. Vicente me conduzia entre os famosos e, através dele, bebi várias caipirinhas com Gonzaguinha em longas conversas madrugada a dentro. Com Anastácia e Dominguinhos, bebi várias doses de cachaça pura, ocorrência repetida anos depois quando encontrei o querido músico calçado em chinelos de borracha, passeando pelas ruas de Vitória,


Com Tom Zé, o encontro no Bar do alemão, foi amor à primeira vista. Meu ídolo nos tempos que morei na pensão de D. Margarida, em Salvador e ele já comandara a Tropicália, naquela época, repousava sua criatividade na calma do seu apartamento nas Perdizes onde vive até hoje, criando, cultivando flores nos jardins do condomínio e em casa, a sua doce Neusa. Lá se vão 40 anos de convivência, mesmo distante, com o genial músico baiano. Na última vez que assisti um show dele, no Teatro do Sesc em Salvador, ao me identificar na primeira fila, interrompeu o espetáculo para me deixar corado com uma inesquecível homenagem. Vida longa ao Tom!


E o magrelo Serginho Leite, músico e humorista brilhante. Criador do personagem Agnaldo Peixoto, mistura de Cauby com Timóteo. Serginho que se foi tão cedo, já era muito engraçado, mas ainda não era humorista. Era um disputadíssimo instrumentista e componente da banda de Tom Zé. Muitas vezes, fomos o motor de arranque do Dodge Dart vermelho que ele pilotava.

Dia 10 de julho de 1973, deu uma canja na casa, um vizinho ilustre que morava no edifício ao lado. Nada mais nada menos do que o grande Agostinho dos Santos que comemorava a temporada que faria em Paris e seria iniciada naquela semana. Agostinho morreu no dia seguinte, no voo da Varig que caiu ao chegar no Aeroporto de Orly.

Além de músicos como Pulo Vanzolini, Odair Cabeça de Poeta, Helton Medeiros, ele mesmo, o grande sambista carioca que morreu esta semana, Arrigo Barnabé, Carlinhos Vergueiro, Roberto Riberti (parceiro de Gudim), o produtor Pelão, Edgard Gianullo, humorista e ator de sucesso em comerciais de TV, brilhante violonista até hoje em atividade, havia também o impressionante time da casa. Dagoberto, o dono, caixa e instrumentista. Nelsinho e sua bela mulher, sempre presente, era uma espécie de sócio e virtuoso cavaquinista. Completava o time, Sinval, garçom baiano sempre disponível para uma piada e para uma chorada no chope.



Raimundo Monte Santo, o Raimundinho, que viveu grande parte da sua infância e adolescência em Euclides da Cunha e chegou a fazer sucesso em um festival com a Música América Neblina, também pontou na casa, mas esse, levado por mim. Não o via há alguns anos. Nos encontramos na noite Paulista e fomos parar no Bar do Alemão. Penso que foi naquela madrugada, depois que nos despedimos, que ele morreu em um trágico acidente na Avenida Paulista em frente ao MAM.

Fechando as memórias da noite, um espaço especial para um cidadão de Araras, um jovem médico conhecido pelas iniciais LACO, Luiz Alberto Chaves de Oliveira. Marcante por ser simpático, querido por todos e por andar sempre acompanhado de uma bela irmã, se não me engano, Regina. Nessa pesquisa de internet, encontro a brilhante trajetória do médico Laco, tendo ocupado importantes posições na saúde pública de São Paulo, atualmente aposentado e vivendo ao lado da mulher amada, em uma praia no interior de Alagoas. Vida longa a todos nós que ainda estamos aqui!

 

 



Autor: Celso Mathias
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