dois a um contra o tabaco

sábado, 2 de agosto de 2008

O vício do tabaco, uma das maiores pragas da humanidade nada tem a ver com a natureza, É originário na ação do homem, e só por ela pode ser contrariado. Na linha da tradição filantrópica americana, dois bilionários acabam de juntar forças com a finalidade de combater o tabagismo.

dois a um contra o tabaco

Um deles é Bill Gates, recém aposentado presidente da Microsoft e criador de uma fundação beneficente que até agora destinava recursos ao combate a AIDS e a malária. O outro é Michael Bloomberg, criador de uma grande empresa de informação financeira que leva o seu nome - Bloomberg LP - e atual prefeito de Nova Iorque.

Numa coletiva de imprensa em Manhattan, os dois bilionários anunciaram que vão gastar quinhentos milhões de dólares em iniciativas antitabagistas. Bloomberg, que deixou de fumar a trinta anos, é conhecido há muito pelo seu ativismo na matéria e, nesse sentido, fundou uma das mais importantes organizações privadas, a Bloomberg Initiative to Reduce Tobacco, cuja ação se estende a inúmeros países. A lei pioneira de 2002 que proibiu fumar nos bares e restaurantes de Nova Iorque foi obra dele.

Aos 375 milhões de dólares que Bloomberg investiu e vai investir, somam-se 125 oferecidos por Gates. Embora o fundador da Microsoft não tenha dedicado grande atenção ao assunto até agora, o anúncio assinala a nova de direção na Bill and Melinda Gates Foundation. "O tabaco é uma epidemia que pode ser combatida", disse Gates. Os bilhões investidos no combate a doenças muito associadas ao Terceiro Mundo (embora não exclusivamente) tornaram a sua fundação uma das principais entidades filantrópicas do mundo. Considerando que o gasto público anual em iniciativas antitabagistas ronda os 20 bilhões, percebe-se a diferença que pode fazer a intervenção desses dois nomes.

O contexto do compromisso agora anunciado, que se estende por cinco anos, é o MPower, um projeto global cuja prioridade são os países pobres e de rendimento médio, para onde as grandes companhias de tabaco voltam a sua atenção após verem as suas atividades reduzidas no chamado primeiro mundo com leis que proíbem fumar em lugares públicos e fazer publicidade ao tabaco na televisão. Com efeito, é em países como a China, a Índia e a Rússia que se prevê cresça mais o consumo de tabaco ao longo das próximas décadas.

O MP Power prescreve seis tipos de medidas. Medidas legislativas e atividades educativas deverão contribuir para redução do número de mortes pelo tabaco, atualmente estimadas em cinco milhões por ano. Atividades educativas também são fundamentais, com Gates e Bloomberg financiando workshops mundo afora, bem como viagens de formação de líderes de opinião dos países mais afetados. O contrabando de tabaco também será objeto de atenção. Por último, defende-se o aumento de impostos sobre os cigarros.

"Sou um otimista, mas também um realista", disse Bloomberg. "Todo o dinheiro do mundo jamais erradicará o tabaco. Mas esta associação prova como a onda se está se voltando contra esta epidemia mortal". Neste momento, uns cinco milhões de pessoas morrem anualmente por doenças relacionadas com o tabaco. Prevê-se que em 2030 trinta por cento das mortes ocorram em países pobres e de rendimento médio. A China e a Índia merecem especial atenção, explicou Gates.

Falando sobre os fabricantes de cigarros, Bloomberg disse ser preciso mostrar-lhes que "os lucros que obtém são ensombrados pela despesa que representam para a sociedade". Uma representante da British American Tobacco disse não ter problema nenhum com a educação pública em relação aos riscos do tabaco. Mas é previsível que o aspecto financeiro seja um obstáculo, não só pelo fato de os governos receberem muito dinheiro com os impostos do tabaco, como também porque em alguns países o tabaco chega a ser mesmo um monopólio do estado.

"O tabaco é uma epidemia que pode ser detida, e queremos envolver as pessoas", disse Gates. Mas é importante ter plena consciência da dimensão do problema. Só na China existem cerca de 350 milhões de fumantes, o que equivale a um terço da população. Os Jogos Olímpicos são uma oportunidade para ver o caminho que ainda falta percorrer na matéria. Embora fumar vá ser proibido em transportes públicos e recintos desportivos durante o mês que duram os Jogos, a regra não se aplica a bares e restaurantes

Na África, curiosamente, a epidemia não atinge a dimensão de outras regiões do mundo. Apenas uns vinte por cento dos indivíduos de sexo masculino fumam. Gates disse ter esperança de contribuir para impedir que esse número cresça. A avaliar pelo papel que a sua fundação já tem em países habitualmente tidos como casos trágicos em matéria de saúde, pode ser que o seu desejo se cumpra. Em especial se os governos respectivos colaborarem.

Nos últimos anos, fumar em espaços públicos tornou-se proibido em inúmeros países europeus. Um raro retrocesso deu-se há duas semanas, quando o tribunal superior alemão julgou inconstitucionais as leis de dois estados alemães que proibiam fumar em bares e restaurantes com área pequena. Mas mesmo aí o que estava em questão era apenas a discriminação em relação a certo tipo de estabelecimento. O tribunal disse que se a lei fosse geral não haveria problema.


Autor: Celso Mathias
Publicação vista 1690 vezes


Existe 1 comentário para esta publicação
segunda-feira, 25/8/2008 por Carlos Adonai Vásquez
Como dizer não ao Tabaco.
Segundo a OMS, qdo 1 fumante dx o vício, 3 novos começam. Então, dirão os menos otimistas, pra quê combater o fumo? Essa é uma luta desleal. Bem, pode até ser uma luta desleal, porém é possível reduzir cada vez mais o número de fumantes. Por que não?
Enviar comentário


Confira na mesma editoria:
“Combate às fake news”: ética ou espetáculo?
“Combate às fake news”: ética ou espetáculo?
Swissleaks: como o HSBC lavou o dinheiro sujo do mundo
Swissleaks: como o HSBC lavou o dinheiro sujo do mundo
Copyright 2014 ® Todos os Direitos Reservados.