E agora, josé?

domingo, 5 de outubro de 2008

A cidade de Euclides da Cunha, na Bahia, teve nos seus 72 anos de emancipação, 20 Prefeitos/Intendentes. Destes apenas 03 deles somados,José Camerino,Antonio Batista de Carvalho e Renato Abreu Campos, totalizaram 32 anos de poder. Cinco deles chamavam-se José. Portanto, nada melhor do que parodiar o poema de Carlos Drummond de Andrade para lembrar um pouco o momento e as expectativas do povo daquela cidade

E agora, josé?

 

E agora, José?

A festa acabou o poder se foi,

os amigos sumiram e chegou a hora de prestar contas.

Quem vai ficar para apagar a luz da Prefeitura?

E agora José?

A Fátima ganhou,

a festa começou,

seu poder aumentou.

Vai acomodar quem para fazer renascer a esperança e afastar o medo?

E agora, José?

E agora você?

Vai querer continuar no poder,

vai querer presidir a Câmara vai querer fiscalizar o outro José?

Vai querer reerguer seu nome, vai parara de zombar dos outros?

E agora José,

você que faz planos,

você que protestou,

que quer se reeleger deputado,

que quer se perpetuar no poder,

que já pôs a mulher,

vai querer por o filho?

Um José não tem mais mulher prefeita.

O outro tem!



Rosa não é mais prefeita,

Fátima é!

E os discursos,

como ficam agora os discursos Josés?

E como ficam os carinhos?

Essa noite,

o povo vai poder beber,

vai poder fumar,

vai poder cuspir e vomitar tudo que sofreu nos últimos quatro anos.

Alguns vão chorar.

Para alguns,

um novo amanhecer,

para outros uma noite longa e fria que está chegando.

O bonde não veio,

e nem aqueles velhos ônibus que mais que servir aos passageiros,

serviam aos patrões e enfeavam a cidade.

Eles vão continuar, José?

O riso que não vinha, veio!

Acabou a utopia e um novo tempo vai começar. Vai?

Alguns terão de fugir.

E agora, José?

E agora, Josés?

como ficam as suas palavras,

as doces e as amargas, seu instante de sede e de gula do poder?

agora é hora de Jejum,

quem sabe,

chegou a hora de se entrar numa biblioteca,

e sua lavra de ouro,


seu chapéu de couro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora?

 E agora José,

está com a chave na mão,

quer abrir a porta,

a porta existe e o mar que virou sertão chegou a hora de voltar a ser mar?

Quer ir para Brasília,

continuar em Salvador ou voltar para Euclides e apoiar D.Fátima?

José, e agora?

se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse o destino dessa cidade como toca sua tão bem sucedida vida pessoal,

se você dormisse tranqüilo ao travesseiro,

se você não cansasse de querer de fato ajudar a esse povo sofrido,

talvez, você nunca morresse,

ficaria eternizado no coração do seu sertanejo.

Não como um imperador,

sim como um redentor.

Mas você é duro, José!

gosta de mandar sozinho

tal um coronel moderno

sem ter que dividir por só saber somar

sem cavalo preto que lhe faça herói,

que fuja a galope,

Você marcha, José!

José, para onde?

 

 


E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José ?

e agora, você ?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José ?

 

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José ?

 

E agora, José ?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora ?

 

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora ?

 

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José !

 

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José !

José, pra onde ?

 


Autor: Celso Mathias
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Existe 2 comentários para esta publicação
quinta-feira, 9/10/2008 por Lúcia Dantas
e agora José?
Parabéns pela máteria, maravilhosa ! Aguademos os fatos e os atos do novo José(??
segunda-feira, 6/10/2008 por José Loureiro Filho
Parabens
Gostaria de enaltecer a criatividade do Jornalista e também de frisar para refletirmos o mal desenvolvimento politico do Deputado José Nunes, durante todos estes anos. Está na hora de consertar Deputado todo mal que vc tem feito ao municipio.
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