Obama no Carnaval baiano

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O mundo inteiro canta, dança e comenta com alegria a grande guinada e conquista dos afro-descendentes, com o desfecho da vitória esmagadora de Barack Obama nas eleições americanas.

Obama no Carnaval baiano





Mesmo sem cogitarem as possibilidades de alguns sérios problemas que possam surgir através dos não satisfeitos, o povo na sua grande maioria, quer mesmo é ver o mar pegar fogo para poder pescar o peixe já frito. Esqueceram que, mesmo por debaixo dos panos, ainda existem Estados americanos que cultuam a Klux Klux Klan e, certamente, estão nervosos, aflitos e inconformados com o absurdo de um negro ser seu presidente. Isso, embora possa parecer novelesco, mas, num país onde se mata sem nenhum motivo, disparando metralhadoras nas escolas e ruas, não podemos deixa de raciocinar encima de tais hipóteses, como se fossem utópicas.

Mas, para que não achem que estamos querendo tirar o brilho da festa que está começando e se radicalizará no início de janeiro, vou me ater a falar sobre a possibilidade de uma séria briga entre os Blocos Olodum e o Ilê Ayê, pois ambos, por serem os mais representativos da raça negra na Bahia, já estão com os convites formalizados para que Obama venha desfilar no carnaval, encima de um carro alegórico especialmente projetado para tal fim, usando abadá e colares, complementado por várias lindas negras dançando nas suas laterais.

Porém, como já houve uma consulta telefônica através da embaixada, o nosso novo ídolo mundial (já está até derrubando a popularidade do nosso querido Lula) avisou que só poderá desfilar por um bloco apenas, e que entrassem em acordo para escolher em qual será.

Aí o bicho pegou! Vovó não se conforma que não seja no Ilê. Quer porque quer ver Obama na Ladeira do Curuzú vendo a libertação dos pombos e participando da oferenda das pipocas.

Por outro lado, o presidente do Olodum alega que é o orgulho do Pelourinho, sediado no centro histórico, lugar benzido pelo sangue dos escravos africanos e, pela lógica, seu bloco é o que tem mais direito a tal honraria.

Em vista disso a divergência foi formada e, prontamente, entraram em contato com o ex ministro Gil, para na qualidade de negro, baiano e entender de carnaval como poucos, dar sua abalizada opinião sobre tão polêmico e importante assunto para a comunidade negra da Bahia, já que somos o país que tem mais negros no mundo depois da África, sendo nosso Estado o de maior concentração.

E, o pior de tudo é que o nosso cantante ex-ministro, com sua voz macia, tranquilamente, falou: Para que não ocorram aborrecimentos, eu acho que ele deve desfilar é no Filhos de Gandi! Já pensou meu rei! Obama de turbante, com nossa linda indumentária alvinha, será, literalmente, o preto no branco representando a miscigenação das raças. E depois do desfile eu o levo para o Camarote 2222!

Rapaz, aí foi que complicou! Pois, em vez de optar por um dos dois, o homem puxou a sardinha para sua brasa, criando uma terceira hipótese que nem tinha sido ventilada. Resolveram fazer que nem ouviram a observação, agradeceram e cada um partiu para tomar suas providências na expectativa de conseguir alcançar seus objetivos.

Para nós modestos foliões, só nos resta esperar o carnaval e ver o resultado dessa disputa. Antigamente seria dito: Isso é briga de branco! Mas hoje, com essa mudança radical de prestígio de cor o popular adágio passou a ser: Isso é briga de preto, mermão!

O mais que posso fazer é deixar a pergunta no ar, para alguma empresa de telefonia fazer até um concurso:

“Em que bloco de Carnaval Barack Obama vai desfilar?

Ilê Ayê? Olodum? Ou Filhos de Gandi?

 



Autor: Antonio Nunes de Souza
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