Chegou a marola

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A INADIMPLÊNCIA É A MAOIR DOS ÚLTIMOS TEMPOS E TRÊS MILHÕES VÃO PERDER EMPREGO.O "Indicador Serasa de Inadimplência Pessoa Física", divulgado hoje revela que a taxa de inadimplência dos brasileiros apresentou alta de 8% em 2008, refletindo a diminuição da renda disponível dos consumidores pelo crescente endividamento por parte da população em prazos mais longos, pelos juros absurdos praticados no Brasil e pela piora das condições de crédito no último trimestre de 2008.

Chegou a marola


Como não poderia deixar de ser as dívidas com os bancos estão em primeiro lugar no ranking com 43,2% do total de vencimentos no ano. Já os débitos com cartões de crédito e financeiras ficaram com a segunda posição com 33,7% de participação, cabendo a terceira posição do pódio aos cheques sem fundos com 21% do total.

O Presidente da Força Sindical calcula que 3 milhões de postos de trabalho serão eliminados até março e já prepara protestos. A idéia é fazer manifestações nas principais capitais no próximo dia 21 quando deverá acontecer a reunião de número 140 do Comitê de Política Econômica (Copom) para definir a nova taxa básica de juros (SELIC). Será que vão se manifestar mesmo como antigamente ou o Presidente Lula vai fazer uma graça e calar todo mundo antes? E a CUT, CGT, deputados, senadores, presidentes de instituições públicas e privadas, será que vão descer do muro?

Semana passada o Jornal britânico Financial Times afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central foram complacentes ao lidar com os primeiros estágios da crise econômica global – marolinha - que já chegou ao Brasil, “liberando bilhões de reais em reservas compulsórias para aliviar os problemas de liquidez dos Bancos”.

Eu modestamente acrescento: sem uma contrapartida social, ou seja, efeito prático na forma de repasse para aliviar os tomadores de empréstimos.

Já sentindo as dores do parto, a Força Sindical começa a se mexer e os bancos já com números concretos em mãos, dão sinais que se preparam para um monumental aumento da inadimplência em 2009. Ainda bem comportados, empresários estão pedindo ao Banco Central para pagar neste ano de 2009, apenas os juros dos empréstimos, deixando o principal para 2010, ano de eleição muito bom para negociações e negociatas. Retiro negociatas porque isto não existe nesta abençoada terra de Santa Cruz.

Depois da quebra do Sistema Financeiro Mundial, numa autêntica reedição do samba do crioulo doido, o Presidente da República afirma publicamente que nossas taxas de juros são abusivas, o Presidente do Bradesco representando a classe dos Banqueiros pede que o Banco Central faça uma reunião de emergência para cortar os juros, recebendo do Presidente do Banco Central em tom de gozação um sonoro  - “Fala sério!”  - e a cobrança de que o problema “está na diferença entre o custo médio que os bancos têm para captar dinheiro e o dos seus empréstimos”.

Quer dizer, ninguém tem nada a ver com nada e nós pobres cidadãos pagadores de impostos, espoliados pelo crédito, continuamos também sem entender nada. Parece até a história da moça que circulando diariamente nos bastidores da televisão, ansiosa por um papel, um dia explode: - Afinal, quem é mesmo que manda aqui! Eu já estou cansada de dar para o diretor errado!

A verdade é que considerando que o resto do mundo está trabalhando com juros anuais próximos de zero, nossas autoridades - sem argumentos que justifiquem a continuidade das taxas aplicadas às pessoas físicas no Brasil, de 200% ao ano nas operações mais simples e até 537% no crédito rotativo do cheque especial e cartões de crédito - preferem ficar "em cima do muro", em posição de neutralidade, cômoda, mas suspeita já que ficar no "meio" indica indiferença, limitação, incompetência ou comprometimento.

Será que o nível de comprometimento dos Presidentes citados é tão alto assim que ninguém possa quebrar o acordo e sugerir alguma coisa em benefício da espoliada classe trabalhadora pagadora de impostos? Ou pior, diante do silêncio de senadores e deputados, será que estamos diante de novo mensalão bancado pelos banqueiros? Como neófito, gostaria de ter respostas para três questões: 

1 - Depois dos pesados recursos públicos já disponibilizados para os Bancos (segmento único até agora imune à crise e em posição confortável) por que o Presidente da Republica não edita uma Medida Provisória limitando os juros em 12% ao ano conforme previsto no Artigo 192, parágrafo 3º, da Constituição da República Federativa do Brasil? Neste aspecto lembro ao Presidente que não vale dizer que a Taxa Básica (SELIC) já está próximo disso, pois essa taxa só vale para pessoas jurídicas com poder de fogo. As taxas impostas às pessoas físicas (200 a 537% ao ano) são inegociáveis, embora perfeitamente enquadráveis no “crime de usura, a ser punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determina’’. Ou será que ele não sabe que estas taxas são praticadas abertamente e constam dos extratos das contas correntes e cartões de crédito?

2 – Por que o Presidente do Banco Central não aproveita a reunião do próximo dia 21 e fixa logo a Taxa Básica (SELIC) também em 12% ao ano, repito... Prevista no Artigo 192, parágrafo 3º, da Constituição da República Federativa do Brasil?

3 – E por último, por que os Banqueiros não tomam a iniciativa de renegociar os contratos das pessoas físicas à taxa de 12% ao ano, repito de novo... Prevista no Artigo 192, parágrafo 3º, da Constituição da República Federativa do Brasil? E mais, já que gostam tanto de sortear prêmios na hora de captar remunerando o capital no máximo a 0,8 % ao mês, porque não fazem a mesma coisa agora na hora de receber, incentivando e premiando com descontos significativos aqueles que ainda estão conseguindo pagar suas prestações e cartões de crédito em dia? Gordura para queimar, eles tem. E muita!

Se minhas indagações de neófito são simplistas e difíceis de responder, transcrevo a seguir trechos do pronunciamento do economista Nilson Araújo de Sousa, durante debate no V Congresso da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), realizado recentemente na capital paulista, no painel “Energia, Infra-Estrutura e Desenvolvimento”:

...“E por que a nossa taxa é tão grande? Por que é a maior do mundo? O pessoal do Banco Central alega duas razões: de um lado, o combate à inflação; dizem que os juros têm que ser altos para as pessoas comprarem menos e assim bloquear os aumentos de preços... mesmo se fosse correta a posição de que se combate inflação com juros altos, por que seria necessário o juro maior do mundo para combater uma inflação rastejante? Por outro lado, alega que os juros altos seriam necessários para garantir o refinanciamento da dívida pública.

Diz que, se baixar a taxa de juros, os capitais irão embora do Brasil, impedindo o refinanciamento da dívida brasileira. Ora, se a nossa taxa é quase cinco vezes maior do que a média dos países com desenvolvimento similar ao do Brasil, esse capital sairia do Brasil para ir para onde? Portanto, temos um espaço muito grande para abaixar nossa taxa de juros. Se isso ocorrer, o governo vai ter mais dinheiro do seu orçamento para investir, as empresas estatais e privadas que são devedoras vão diminuir os seus encargos financeiros e também vão ter mais dinheiro para investir, aquelas que não têm dinheiro vão poder tomar dinheiro emprestado para investir porque a taxa de juros vai estar mais baixa, o consumidor que vai para o crediário vai comprar mais, ou seja, a economia se dinamiza com a taxa de juros mais baixa. Então, por que os juros não baixam na proporção adequada? Já vimos que a alegação da equipe de Henrique Meirelles não tem fundamento, porque não há pressão inflacionária nem dificuldade em refinanciar a dívida pública. Só vemos uma razão do motivo da diretoria do Banco Central não baixar a taxa de juros: suas ligações com o sistema financeiro privado.

A diretoria do Banco Central tem sido composta por pessoas oriundas do sistema financeiro privado. Ora, o Banco Central é o órgão central dos bancos. É o órgão que fiscaliza os bancos privados e estabelece as condições para sua remuneração. Como é que se coloca alguém de um banco privado para dirigir o Banco Central? É a mesma coisa que você colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. Qual a origem de Meirelles? Era presidente mundial do BankBoston(olha a modesta sede dele em São Paulo), um banco estrangeiro, estadunidense. Conta com uma aposentadoria módica de 700 mil dólares por ano desse banco. Como vai trabalhar para abaixar a taxa de juros se ele, ao terminar seu tempo no BC (que espero seja breve), vai retornar à sua ligação fundamental com o sistema financeiro privado?  Não vemos uma forma efetiva de se resolver definitivamente essa questão de destravar a economia, ou seja, conseguir recursos para poder aumentar a infra-estrutura, senão através de uma forte redução da taxa de juros, para o País crescer como o presidente Lula deseja: no mínimo, a 5% ao ano. Antes, só se falava em meta de inflação. O presidente agora, mesmo sem anular a meta de inflação, declarou que o principal é a meta de crescimento. O País tem que crescer no mínimo 5% ao ano, disse ele. Para isso, só com uma taxa de juros civilizada, isto é, nos moldes das taxas que prevalecem no mundo. Então, aquilo que tem que ser destravado, o obstáculo que está no caminho, é a direção do Banco Central. Neste caso, a primeira medida para o País realmente poder destravar sua economia é retomar o controle do Banco Central. O Banco Central efetivamente voltar a ser um banco público, para ser um banco que atenda às políticas públicas do governo, cujo centro deve ser a retomada do desenvolvimento auto-sustentado. Que significa, a nosso ver, substituir essa diretoria que lá está por outra que seja inspirada no interesse público, e não no interesse dos cartéis financeiros”.

Falou e disse, companheiro!

 


Autor: Johil Camdeab
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