Breve cronologia de Woody

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Depois de dois casamentos desastrosos que Allen referenciava jocosamente nos filmes, na rádio e nos atos humorísticos em palco aberto, Diane Keaton aparece para deslumbrá-lo. Primeiro, protagonizando a peça que ele levou à Broadway, “Play It Again, Sam”. Mais tarde em muitos dos seus filmes mais respeitados, caso do “Nem Guerra, nem Paz” em que ela parecia escrita por Tolstoi e Dostoievski, sempre na companhia dele, os dois pelo passado fora tentando causar um motim na velha Russia

Breve cronologia de Woody

1977. Annie hall

Amor e Morte, dois dos temas preferidos. Na vida real, a relação entre Woody e Diane durou um ano. Mas originou o romance mais inspirado que Woody escreveu para o cinema, “Annie Hall” (o nome verdadeiro de Diane Keaton é Diane Hall). 1977. Annie hall. Alvin Singer, um cômico sofrendo de fobias várias, apaixona-se por uma moça insegura que, alem de só vestir estilos vintage que criaram escola, é calma e tem a vida em ordem. Woody Allen e Diane Keaton são magníficos na harmonia humorística, de fato um casamento artístico planejado no céu. O filme era para se chamar Sweethearts, prova de que é sobretudo um romance e não apenas a comédia mais famosa do autor. Sedução, riso, sintonia de alma, zanga perante as baratas enormes: tudo, bom e mau, é minuciosamente coreografado para dizer que, quando amamos, é bom estarmos prontos também para a discórdia e para a perda.

1979.Manhattan.

Dois casais, o mesmo problema: é difícil gostar ou acreditar sem, primeiro, racionalizar. Diane Keaton e Michael Murphy são o par intelectual que já espremeu da vida aquilo que ela tinha de maravilhosamente espontâneo. Woody, emparceirado aqui com uma menina que se recusa a ser sarcástica nos assuntos do coração (Mariel Hemingway, preciosa), é o homem que já foi derrotado pelo cinismo. Por cima disto tudo há o manto de magia bordado por Nova Iorque, aqui apresentada num preto e branco luxuoso exaltado pela música de George Gershwin. Para amar é preciso ter fé. Pelo menos um bocadinho.

1983. Zelig.

Um caso sério — embora também muito cômico, triste e tocante — de originalidade e falta de piedade no retrato da condição humana. Leonard Zelig é um homem discreto que, nos anos 20 e 30, obteve os favores do público, um pouco como o herói aviador Charles Lindbergh ou a rainha Maria da Romênia. Limitando-se à estratégia do camaleão, adapta-se para sobreviver num mundo que exige dele total falta de caráter ou coluna dorsal. O filme é breve, apenas 87 minutos. Mas reparem na diferença: numa década em que os outros cineastas americanos se transformavam em magnatas milionários obcecados com máfias, guerras intergalácticas ou salteadores de arcas perdidas, Woody Allen manteve a paródia e provou ser mais inteligente do que eles todos.

1985. A rosa púrpura do Cairo.

Uma mulher com ar de formiguinha inofensiva refugia-se no cinema para escapar à tortura dos dias. E não é que, ali mesmo na platéia tristonha da América depressiva, passa a ser invejada pelo grande explorador Tom Baxter que, no telão, vence tudo e todos com facilidade? Ela é de carne e osso e ele é de ficção mas numa relação amorosa não se pode querer tudo. Hilariante — sobretudo quando, na tela, os empregados de mesa percebem que já não têm que obedecer ao script e começam a fazer aquilo que sempre ambicionaram: sapateado! Sim, as pessoas refugiam-se no cinema para poderem, finalmente, viver as suas fantasias. Mas é o cinema que, no fim, tem inveja da alegria inesperada que é viver de verdade.


Autor: Celso Mathias
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