ultrajantemente gay

sábado, 1 de maio de 2010

É possível um ator mainstream como Jim Carrey protagonizar uma comédia ultrajantemente gay? E é possível que Ewan McGregor seja nela uma espécie de ‘noiva’ frágil e embevecida pelo amor daquele homem que lhe surgiu a iluminar a prisão onde ambos penavam pelos seus delitos? Não, não estou delirando. E também não me refiro a um filme de equívocos em que as regras do boulevard fossem cirurgicamente manipuladas para incluir uma temática homo (como era o caso de “A Gaiola das Loucas”).

ultrajantemente gay


JIM CARREY E RODRIGO SANTORO NUMA COMÉDIA PARA DIVIDIR OS GOSTOS

É possível um ator mainstream como Jim Carrey protagonizar uma comédia ultrajantemente gay? E é possível que Ewan McGregor seja nela uma espécie de ‘noiva’ frágil e embevecida pelo amor daquele homem que lhe surgiu a iluminar a prisão onde ambos penavam pelos seus delitos? Não, não estou delirando. E também não me refiro a um filme de equívocos em que as regras do boulevard fossem cirurgicamente manipuladas para incluir uma temática homo (como era o caso de “A Gaiola das Loucas”).

 Nem um filme gay onde essa tendência sexual fosse arvorada em bandeira, orgulhosamente desfraldada com um humor belicoso (como acontecia, por exemplo, com o espantoso documentário “Rock Hudson’s Home Movies”). Refiro-me a um filme que trata uma temática gay com tal exuberância que se diria saído do imaginário de uma drag queen, mas, por outro lado, utiliza os estereótipos com a virulência de que só um homofóbico seria capaz — tudo envolvido no espanto que é a consciência de se tratar de uma história real, mesmo sabendo nós que o cinema tem liberdades que a vida não consente. Por cima do bolo, a contradição de não podermos gostar do protagonista, prodigioso egoísta, narcísico e amoral, lamentando todavia a madrasta direção que a sua vida acabou por tomar.

Steven Russell (Carrey) sempre tentou fazer o bem e andar na linha, como cidadão, como polícia, como pai e como marido. Tinha, contudo, um segredo: era gay. Até que no cruzamento de uma estrada, um carro aparece-lhe com o impacto com que Cristo deve ter aparecido a Saulo a caminho de Damasco. Na história bíblica, Saulo tornou-se Paulo e, depois, santo. No filme, Steven torna-se... uma ‘bichona doida’ com um estilo de vida tão ostensivo que só convertendo-se em vigarista de alta escala é que a consegue sustentar. Até que a polícia o agarra e acaba na cadeia. E consegue safar-se e volta à delinquência e outra vez à cadeia e etc. Saiba-se, contudo, que “I love you Phillip Morris”,ou ”O golpista do ano” na versão brasileira,é sátira malcomportada — aos filmes gay, às histórias de amor (sim, lá dentro também há uma aproximação às comédias cor-de-rosa — em grotesco), aos lugares-comuns de gênero e de tendência sexual, às histórias de tribunal e de prisão... Tão descabelada que o filme acaba a desfiar em nós interrogações sem resposta. Na verdade, este pudim de mau-gosto, petulância e inventiva não é um filme que se possa amar — mas é irresistível, já que nunca se viu nada assim.



Autor: Adolfo de Castro
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Existe 1 comentário para esta publicação
sexta-feira, 30/4/2010 por Maria Aparecida P. Mendes.
Ultrajantemente GAY
Double tentation. Aff, raser!!
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