Padre gay, péssimo filme

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O filme da polaca Malgoska Szumowska, é uma montanha de equívocos. "In the Name of..." é a história de um jovem padre que despertou tarde para a vocação. Em Berlim, está tudo em polvorosa com o adeus do Papa (ou não fosse ele alemão). Na mídia, o festival de cinema passou o dia encostado a um canto. É curioso notar: há dias, a figura de Bento XVI apareceu por escassos instantes no telão do Berlinale Palast. O padre, que se chama Adam (Timur Aidarbekov), sofre com a tentação por um recém-chegado.

Padre gay, péssimo filme


Foi no novo filme da polaca Malgoska Szumowska (cineasta formada na Escola de Lodz), "In the Name of..." É a história de um jovem padre que despertou tarde para a vocação e se ocupa agora de um reformatório numa paróquia rural da Polônia. O padre é homossexual, os desejos da carne não o abandonam. Szumowska, ela que já assinou documentários e sabe tratar de um assunto que está na ordem do dia, começa a focar a narrativa no melodrama.

O padre, que se chama Adam (Timur Aidarbekov), sofre com a tentação e as coisas pioram quando um dos rapazes recém-chegados, Adrian, não tem problemas em assumir a sua sexualidade. Numa cena penosa, cercado entre quatro paredes, o padre, bêbado que nem um cacho abraça-se à foto emoldurada do Sumo Pontífice que agora resignou. É infelizmente uma cena que resume o programa de "In the Name of...".

Não há muito a dizer deste filme polaco com ingredientes que costumam valer prêmios na Berlinale. Mas sim, há: pouca vergonha. Szumowska é certamente uma cineasta preparada - nota-se o seu gosto pela direção de atores -, mas é pena que não veja mais além do que vê. O problema não é dela e é bem mais grave, contudo. Nas escolas de cinema, ensina-se realização, fotografia, montagem, preparam-se pessoas para a profissão, mas não há meio de se ensinar outra coisa tão elementar como isto: é que com a Igreja não se brinca, senhores realizadores. E não se brinca mesmo, a história do cinema não o admite: ou se é profundamente herege, como Buñuel ou Pasolini o foram (e quantos 'filmes heréticos' não foram reconhecidos pela Igreja pelo seu valor?), ou se é profundamente sóbrio e circunspecto com o assunto que se tem em mãos.

Agora assim, não. Ficar 'a meio', à espera da escandaleira, da lágrima ao canto do olho pelo padre dividido, é erro de palmatória. E se esse caminho se relaciona, tal como este filme tenta fazê-lo a medo, com o chiste antissemita, então aí se está a tocar na abjeção. O resultado de "In the Name of..." é igual ao de tantos outros que se meteram pelo mesmo caminho: na sua tentativa de despertar consciências contra a condenação, é o filme que acaba por condenar-se a si próprio.



Autor: Francisco Ferreira, de Berlim
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