a flor do mistério

domingo, 9 de novembro de 2008

Por que a flor do maracujá é tão admirada e cantada em verso e prosa? André Luiz de Aquino é quem explica: “os índios já conheciam a flor do maracujá muito antes dos colonizadores chegarem ao Brasil. A palavra maracujá é de origem tupi e significa alimento em forma de cuia...

a flor do mistério


Os jesuítas foram os responsáveis pelo seu descobrimento e catalogação, bem como a divulgação do seu sabor e propriedades calmantes. Todavia ainda não havia vislumbrado o que o maracujá, a fruta da paixão, tem de mais belo, a sua flor. Missionários espanhóis do século XVI viram a flor do maracujá e ficaram em êxtase. Acharam que sua estrutura representava a Paixão de Cristo. As pétalas e sépalas representavam os apóstolos, as antenas simbolizavam as chagas de Cristo, os três estigmas faziam referência aos três pregos na cruz, e os filamentos a coroa de espinhos. As flores seriam manchadas de roxo em virtude do sangue de Cristo. A flor do maracujá é mesmo mágica. Quando a vi pela primeira vez tive uma sensação de tristeza e alegria ao mesmo tempo, algo que me provou que sentimentos opostos podem sim conviver num mesmo corpo”.

 

Na linguagem caipira, Catulo da Paixão Cearense fez uma linda poesia aqui traduzida para o português dos letrados: “Ah! pois então eu lhe conto, a estória que ouvi contar, a razão pro que nasce roxa, a flor do maracujá. Maracujá já foi branco eu posso até lhe jurar, mais branco que claridade, mais branco do que o luar. Quando a flor brotava nele lá pros confins do sertão, maracujá parecia mais um ninho de algodão. Mais um dia, há muito tempo num mês que até não me lembro, se foi maio, se foi junho, se foi janeiro ou dezembro. Nosso Senhor Jesus Cristo foi condenado a morrer numa cruz crucificado, longe daqui como o quê. Pregaram Cristo a martelo e ao ver tamanha crueza, a natureza inteirinha, pôs-se a chorar de tristeza. Chorava os campos, as folhas, as ribeiras. Sabiá também chorava nos galhos da laranjeira. E havia junto da Cruz um pé de maracujá carregadinho de flor, aos pés de Nosso Senhor. E o sangue de Jesus Cristo, sangue pisado de dor, pingava no pé do maracujá, tingindo de roxo, cada flor. Eis aqui seu moço a estória que ouvi contar, a razão porque nasce roxa, a flor do Maracujá.”

 


Mas foi Fagundes Varela que a transformou no símbolo da paixão, numa belíssima declaração de amor: “pelas rosas, pelos lírios, pelas abelhas sinhá, pelas notas mais chorosas do canto do sabiá, pelo cálice de angústias da flor do maracujá! Pelo jasmim, pelo goivo, pelo agreste manacá, pelas gotas de sereno nas folhas do gravatá, pela coroa de espinhos da flor do maracujá. Pelas tranças da mãe-d'água que junto da fonte está, pelos colibris que brincam nas alvas plumas do ubá, pelos cravos desenhados na flor do maracujá. Pelas azuis borboletas que descem do Panamá, pelos tesouros ocultos nas minas do Sincorá, pelas chagas roxeadas da flor do maracujá! Pelo mar, pelo deserto, pelas montanhas, sinhá! pelas florestas imensas que falam de Jeová! pela lança ensangüentado da flor do maracujá! Por tudo que o céu revela por tudo que a terra dá, eu te juro que minh'alma de tua alma escrava está!!.. Guarda contigo este emblema da flor do maracujá ! Não se enojem teus ouvidos de tantas rimas em A, mas ouve meus juramentos, meus cantos ouve, sinhá! Te peço pelos mistérios da flor do maracujá!”

 

 

 

 


Autor: Adolfo de Castro
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Existe 2 comentários para esta publicação
segunda-feira, 10/11/2008 por Darlane
Erro
Desculpe, mas acabei de mandar um comentário por engano em nome de Romário. Na verdade eu queria enviar a matéria e só depois que percebi que era comentário. Por favor, desconsiderem o comentário anterior. Obrigada!
segunda-feira, 10/11/2008 por Romário
Flor de maracujá.
Não tem como ler sobre maracujá e não lembrar de você amor. Mas em se tratando de um cientista como você [quase as mesmas palavras de Antônio...rsrs], certamente deve saber sobre essa curiosidade. Um beijo
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