O poder da gratidão

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Saber agradecer pode melhorar o nosso bem-estar físico e emocional. Robert A. Emmons, autor de “Obrigado!”, explica como. Quantas vezes disse ‘obrigado’ nos últimos dias? Mais do que isso, quantas vezes se sentiu genuinamente grato? Se tem dificuldade em se lembrar desses momentos, saiba que está na hora de mudar de atitude, porque só tem a ganhar. Segundo Robert A. Emmons, autor de “Obrigado!”, a gratidão pode desempenhar um papel fundamental na felicidade humana. “É, literalmente, uma das poucas coisas que pode mudar a vida de uma pessoa”, garante o psicólogo. Basta que seja assumida e expressa com honestidade.

O poder da gratidão


Professor na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, Emmons começou a interessar-se nos anos 80 pela agora chamada Psicologia Positiva, que se foca no estudo das emoções humanas como promotoras do bem-estar emocional (por oposição aos problemas clínicos e emocionais que são o principal objeto da psicologia). Primeiro, centrou a sua investigação na felicidade e nas estratégias para alcançá-la. Já na última década dedicou-se ao estudo da gratidão, essa emoção que o filósofo francês André Comte-Sponville definiu como “a mais agradável das virtudes e o mais virtuoso dos prazeres”.

Com Michael McCullough, psicólogo da Universidade de Miami, Emmons iniciou um programa de pesquisa científica com o objetivo de compreender melhor uma emoção até muito recentemente ignorada pelos psicólogos e que acabou por se revelar mais “profunda e complexa” do que inicialmente havia previsto. Através de vários estudos empíricos os dois cientistas descobriram que a prática da gratidão tem uma série de benefícios “psicológicos, físicos e interpessoais”, que incluem um sono melhor, maior otimismo, mais “humor e energia” e um melhor relacionamento com as outras pessoas. Os efeitos notam os pesquisadores, são sentidos não só pelos próprios, mas também por aqueles com quem eles se relacionam.

“Acredito que não poderemos ser verdadeiramente humanos se não reconhecermos e expressarmos a todos aqueles de quem a nossa vida depende. A gratidão, é a melhor abordagem da vida. Quando as coisas correm bem, permite-nos celebrar esses momentos. Quando correm mal, permitem-nos por a vida em perspectiva”, Afirmou o psicólogo (ver entrevista).

Contudo sublinha Emmons, existe um paradoxo subjacente à gratidão: apesar de ser evidente que “faz nós pessoas mais saudáveis e felizes”, a sua prática regular pode ser uma tarefa “árdua e dolorosa”. Se nuns dias surge com naturalidade, em outros, pode assemelhar-se a uma carga de trabalho “quando tudo que queremos é  nos afundar em um sofá e ver televisão” . Requer por isso, ”uma decisão consciente”, esforço e acima de tudo, disciplina. Trata-se no fundo, de olhar constantemente para a vida como “um presente” que nos é oferecido, apreciando e dando valoras coisas agradáveis que ela nos proporciona.

Pode até parecer filosofia barata, mas Emmons garante que os benefícios estão comprovados. ”As consequências de uma vida em gratidão são mensuráveis”, explica. “Não se trata de retórica moral. São observações empíricas sobre o impacto da gratidão na vida das pessoas”.

Sermos gratos é uma escolha. Tomar conscientemente essa decisão só nos traz vantagens


QUATRO PERGUNTAS a Robert Emmons, autor de “Obrigado!”, professor na Universidade da Califórnia, editor do “Journal of Positive Psichology” e um dos mais importantes acadêmicos do movimento da Psicologia Positiva.

O que é a ciência da gratidão?

O que fazemos é aplicar ferramentas científicas ao estudo dos sentimentos, percepções e expressões da gratidão. Examinamos as consequências mesuráveis da vida em gratidão. Isso significa que substituímos a filosofia barata e a retórica moral sobre a Gratidão por observações empíricas do que ela é e do seu impacto na vida das pessoas.

Que benefícios podemos obter?

Quando as pessoas são gratas elas experimentam uma ‘energia calma’: sentem-se mais alerta, mais vivas, mais interessadas, mais entusiasmadas, mais próximas dos outros. E por quê? Porque têm uma visão de tudo o que têm e da vida em si como um presente. Quer números? As pessoas que mantêm jornais da gratidão [registros diários onde assinalam as coisas pelas quais se sentem gratas] são 25% mais felizes, dormem mais meia hora por noite e fazem 33% mais exercício do que as que não mantêm esses registros. A gratidão funciona também como um antídoto para o stress: as pessoas gratas têm menor tendência a sentir inveja, raiva, ressentimento, arrependimento e outros estados desagradáveis que produzem stress e minam as emoções positivas.

Já tinha publicado antes dois livros sobre a gratidão. Porque voltou a este tema?

À medida que viajo pelo mundo e falo em palestras, tenho ficado muito surpreendido com o grande interesse demonstrado pelas pessoas nesta pesquisa. Decidi por isso escrever um livro mais direcionado para o público em geral. O feedback que tenho tido a esta obra tem sido fenomenal. Existe um apelo magnético, quase mágico, na gratidão, que eu subestimei. Ela responde claramente a uma necessidade que está profundamente associada à condição humana: a necessidade de dar graças. É um instinto básico, mas que é facilmente espezinhado numa cultura consumista. Estes são temas que abordo no livro e que não estavam nos anteriores.

Somos gratos por natureza ou temos que nos mentalizar para o ser?

Para escolher a gratidão é preciso tomar uma decisão consciente. Podemos escolher ser gratos mesmo quando as nossas emoções estão turvadas pela mágoa e pelo ressentimento. Tudo o que é preciso é prática e um esforço concentrado. A gratidão exige disciplina.


Autor: Celso Mathias
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