Diz-se que a castidade é uma virtude. Mas quando a abstinência sexual não é voluntária pode transformar-se num tormento e afetar seriamente a saúde.
Um apartamento hiperdesorganizado. Roupa amontoada
em um canto, paredes forradas com calendários que "respiram erotismo"
e diversos alimentos - que alguém denominou de afrodisíacos - espalhados no
armário da cozinha. Os vídeos pornôs formam uma pilha na mesa da sala. Mas não
estão sós. Acompanham-nos latas de cerveja (uma bebida cai sempre bem) e uma
pizza acabada de descongelar no micro-ondas. Este é um ritual diário e, como
tal, termina sempre da mesma maneira: com a masturbação. Uma dúvida se levanta:
a protagonista da fantasia noturna será a atriz do filme, a criatura do pôster
ou a vizinha do segundo andar? Ou quem sabe, uma aventura a trois?!
Embora exagerado, este cenário não está nada longe da realidade. Muita gente vive o sexo de forma solitária. E não pense que estas pessoas renunciaram ao sexo. Bem pelo contrário. Respiram energia sexual por todos os poros, mas desfrutam o prazer de uma forma onanista. Determinadas pessoas recorrem à masturbação mesmo tendo parceiro e uma atividade sexual satisfatória. Depende da importância que atribuem a tal atividade erótica. Se a utilizam como substituta, pode dever-se a inibições que impedem a relação, afirmam os sexólogos. Problemas de caráter, traumas ou taras físicas que as envergonham são algumas das causas que os impedem de encontrar um parceiro para desfrutar toda a sua sexualidade.
O sexo, ao contrário de comer e de beber, não é uma
das funções vitais do ser humano. A prova disso é que a falta de relações
sexuais nunca foi responsável pela morte de ninguém. Mas podemos ser felizes
sem sexo? Ou corremos o risco de virmos a sofrer de algum transtorno físico ou
psíquico? "The Journal of Sexual Research" publicou um estudo de
Elizabeth Burgess, professora auxiliar de Sociologia na University Research of
Georgia, EUA, do qual participaram 82 homens e mulheres com mais de 30 anos que
ou ainda eram virgens, ou estavam há mais de um ano sem sexo. O objetivo era
saber se essas pessoas se consideravam felizes ou se sofriam de algum problema.
As conclusões foram desoladoras: 100% dos pacientes apresentaram sintomas de depressão
e níveis de autoestima muito baixos que se repercutiam noutras áreas, como o
trabalho. Mais: todos se sentiam infelizes! Os autores do estudo decidiram que
o sexo era um fator influente nesse estado depressivo. Mas não é obrigatório
que seja assim. Existem abstinentes que não apresentam sintomatologias depressivas,
afirma o sexólogo Júlio Machado Vaz.
É verdade que somos pessoas sexuadas e renunciar a isso equivale a cortar com um aspecto chave da nossa natureza. Isto não quer dizer que a abstinência seja uma opção ilegítima. "Se essa é a vontade da pessoa, é ela que a legitima", afirma Rosário Gomes, sexóloga e psicóloga clínica. E acrescenta: "Os problemas surgem quando a abstinência é involuntária".
Questão de desejo - Para alguns sexólogos, falar de sexo é falar de prazer. No entanto,
Júlio Machado Vaz diz que infelizmente as coisas não funcionam assim, sobretudo
para as mulheres. "O homem tem mais dificuldade em simular,
fisiologicamente, o desejo. A mulher pode simulá-lo mais facilmente. Ao longo
dos tempos, ela foi obrigada a suportar o sexo sem qualquer prazer, apenas pela
sua posição subordinada ao poder masculino. Logo: sexo sem desejo",
explica. Ainda hoje se defende que a energia libidinosa tem de ser descarregada
através do ato sexual, sendo o orgasmo um estado de plenitude. E quando isso
não acontece? O neurocirurgião Carlos Belmonte explica as conexões existentes
entre o cérebro e a satisfação do desejo sexual. "A zona do cérebro
conhecida como sistema límbico é responsável pelos mecanismos de
recompensa do nosso organismo. Assim, quando temos fome e comemos, é o sistema
límbico que nos proporciona a sensação de satisfação". O mesmo se passa
com o sexo. Quando um indivíduo é submetido a um estímulo sexual, o sistema
límbico ativa-se; se o desejo é satisfeito, recebe-se a sensação de prazer e o
mecanismo cerebral desativa-se.Para Julio Machado Vaz, "o prazer pressupõe
a percepção psicológica dos estímulos físicos, logo está na cabeça. Além disso,
a percepção da própria excitação aumenta-a, tornando o contato mais
desejado". O problema surge quando esse desejo sexual não é satisfeito. O
mecanismo permanece ativado, mas sem poder atuar. Resultado: surge a
frustração.
Os hormônios do prazer - Entre os mecanismos de recompensa produzidos pelo sistema límbico encontram-se as endorfinas (chamadas hormônios de prazer). São uns neurotransmissores - cuja missão é colocar em contato certos neurônios - que se libertam em momentos de prazer. É durante o orgasmo que o nosso cérebro segrega maior quantidade de endorfinas. No entanto, os benefícios que produzem as endorfinas vão além da mera sensação de prazer. O investigador Paul Pearsall, da Universidade de Harvard, descobriu, por exemplo, que esta descarga hormonal contribui para fortalecer o sistema imunitário das pessoas, na medida em que favorece o aumento dos glóbulos brancos no sangue. Além disso, está demonstrado que as endorfinas atuam como um antídoto contra a depressão, que normalmente surge quando os níveis deste hormônio são muito baixos no organismo. Todavia, "praticar a abstinência sexual não significa, necessariamente, que o cérebro deixe de segregar endorfinas", salienta Júlio Machado Vaz. Opinião corroborada por Rosário Gomes: "Uma pessoa pode ter prazer em outras áreas da sua vida que não a sexual. As pessoas desviam as suas endorfinas e vão buscar prazer em outras áreas. No fundo, são compensadas. Se, por outro lado, tomam esta opção como uma questão de evitamento ou bloqueio, isso acaba por trazer instabilidade".
Mesmo não praticando sexo, podemos sempre ficar descansados: não haverá uma diminuição nos níveis de hormônios sexuais (testosterona e estrogênios), nem da produção de sêmen. Já lhe disseram que quanto mais relações sexuais você tiver, maior quantidade de esperma irá produzir, certo? Pois se esqueceram de lhe dizer que o contrário também acontece. Ou seja, que a menor atividade sexual não diminui a produção de sêmen. O organismo, se não produz sêmen através do coito, o faz automaticamente através dos sonhos. Também as mulheres têm sonhos noturnos que podem culminar em orgasmos. Mas, nestes casos, poderão estar entrando num círculo vicioso. "A falta de estimulação vai provocar um reforço negativo do seu próprio desejo. Isso faz com que a pessoa invista naquela área, pois só conhece esse modo de prazer", afirma Rosário Gomes.
Disfunções sexuais - A abstinência sexual muito prolongada e involuntária pode ser originada
por diversos transtornos psicológicos. "Pode haver uma dificuldade no
âmbito da interação social, ou da abordagem com o outro e, às vezes, há
dificuldade em encontrar novas pessoas. Na sociedade individualista em que
vivemos isso é cada vez mais comum", diz a sexóloga Rosário Gomes. Mas
isso não é o mais grave. "Uma abstinência forçada e prolongada pode
aumentar os níveis de insegurança e ansiedade quanto ao desempenho sexual, o
que, por sua vez, facilita os problemas sexuais", afirma Júlio Machado
Vaz. São várias as disfunções sexuais que tal ansiedade pode provocar. No caso
do homem, pode ser uma disfunção erétil ou disfunção da ejaculação
precoce. No caso da mulher, pode ocorrer o vaginismo (uma contração intensa e
muito dolorosa dos músculos constritores da vagina, impedindo a penetração), a
dispaurenia - o coito com dor e dificuldades orgásmicas. "São problemas
físicos, mas a sua causa é de natureza psicológica ou emocional", diz Rosário
Gomes. Como se isso não bastasse, alguns pacientes que viveram a abstinência
involuntária, ao encontrarem um parceiro podem vir a padecer de uma disfunção
conhecida como inibição sexual. "O desejo ´parece´ ausente como proteção
contra o receio de um fracasso. Mas não é comum", salienta Júlio Machado
Vaz. Segundo os especialistas, estes problemas não aparecem quando a
abstinência sexual é uma decisão voluntária.
"Se a pessoa tomar a abstinência como uma opção consciente, em que conhece seu corpo, mas tem outro tipo de valores, variados interesses e canaliza os seus desejos para outras áreas da vida, não existirá qualquer problema de caráter psicológico", conta Rosário Gomes. Porém, um estudo realizado pela pesquisadora Jennifer Berman, da Universidade de Maryland, EUA, diz que muitas das pessoas que praticam com êxito a castidade e a contenção sexual padecem de anafrodisia, uma disfunção que consiste na anulação (total ou parcial) do desejo sexual libidinoso.
Reclusas-As práticas onanistas são tão frequentes como no caso dos homens.As celas são enfeitadas com fotografias dos namorados, dos maridos e dos filhos. É habitual as reclusas envolverem-se sexualmente com a companheira de cela Estas relações lésbicas não são apenas uma forma de satisfazer o desejo sexual, tem também um poderoso lado afetivo. Tentam reproduzir os laços familiares e sentimentais que tinham lá fora. Grande parte destas mulheres quando recuperam a liberdade voltam a ser heterossexuais.
Reclusos-A
masturbação é uma prática constante. Reaparecem comportamentos próprios da
adolescência, como a masturbação em grupo. As celas estão adornadas com
fotografias das namoradas ou esposas, e com imagens eróticas.Alguns reclusos
fechados em celas de isolamento chegam a excitar-se com a mancha de umidade nas
paredes, nas quais identificavam figuras de caráter lúdico. As relações
homossexuais (como maneira de satisfazer o desejo sexual) são frequentes. Os
pedófilos são, por norma, violados.
Proibido-O mito da promiscuidade juvenil está proibido nos Estados Unidos. Na Europa, a castidade converteu-se numa "virtude" muito valorizada pelos adolescentes. A última moda é a chamada "segunda virgindade". Os casais que desejam casar, embora já vivam juntos, regressam à casa dos pais antes da cerimônia. Até as estrelas fazem campanha a favor da abstinência sexual, tal como ocorreu com a Miss América, Erika Harold, cujo desejo é dar conferências para falar das virtudes da castidade.
Um caso diferente é o de Monica Narano. A jovem cantora espanhola atravessou em 1998 um período de abstinência sexual forçada que durou quase um ano. O cansaço e o estresse das apresentações foram os responsáveis pela sua falta de apetite sexual. Já a superatriz Vera Fisher cujo personagem no auge do seu esplendor seduz o monogâmico e conservador Opash, personagem de Tony Ramos na novela Caminho das Índias, garante que pelo menos à época do folhetim, há dois anos “não ia para a cama ”e nem sentia falta...Não se tem notícias das atividades sexuais da dela, hoje...