Contos

segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Fragmentos... Fragmentos... Dezembro, dia 2. Desprendimento. Calor. Estranho tanto esse meu desprendimento. Não é como se fosse — finalmente — o fim, mas percebo um adeus que me acena de algum lugar impreciso, produto desse desgaste que vai corroendo, todos os dias, parte do chão firme onde eu pensava estar contigo. São pequenas frações que se desprendem. Quase que não se sente a falta, porque é como a supressão de um reflexo, e não propriamente de uma parte certa das coisas sentidas.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
O DIA DA MORTE DE REBECA O DIA DA MORTE DE REBECA Rebeca ia morrer. Ela ainda não sabia, mas não tinha mais que algumas horas de vida. Naquele instante pensava apenas em pegar suas coisas e deixar o apartamento de Klaus o mais rápido possível, antes que ele chegasse e a encontrasse naquele estado. Rebeca sofria. Era orgulhosa, porém, e silenciava.Sua fuga era o diário, onde consumia páginas e mais paginas com a letra regular, entremeando o texto com desenhos. Sentia a presença da outra como um espectro, reinando do exílio.
domingo, 24 de junho de 2012
A METÁFORA A METÁFORA ERA UMA VEZ Maria, que vivia ensimesmada nos livros que lia. Os livros de Maria tinham capas duras como corações de pedra. Mas havia as traças. E elas acabaram destruindo, ao longo do tempo, vagarosamente, as capas duras dos livros que Maria lia. Os buracos foram aparecendo um a um. O ar foi entrando. Também umidade, poeira, farelos de pão, substâncias de toda sorte. Enfim, tudo o que se enfia por entre páginas de livros, inclusive ideias e sustos.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
A ESPERA A ESPERA Porto Alegre, Aeroporto Salgado Filho, 14 horas do dia 12 de junho de 2007. O painel confirmava a chegada do voo 2794 para daí a menos de duas horas. Seria o fim da espera de quase três anos para saber quem era o homem que me aparecera na caixa de entrada do outlook express naquela manhã de setembro, me chamando de "senhora professora". Metódica e organizada, ainda tenho a mensagem que foi escrita às 3h47mim do dia 03.09.2004. Alguém que estava lendo o que eu escrevi, e isso em plena madrugada.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Na cama de outro Na cama de outro Traí uma relação de nove anos, pesava-me a razão. Contudo não me traí, rebatia a consciência. Adultério é aquilo que acontece quando nos recusamos a ouvir o que o corpo tem para dizer. Adultério, ad alterum torum, palavra que vem do latim e significa na cama de outro. Na cama de outro apunhalei pelas costas o que eu era, bicho morto, renasci.
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